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André Luiz

Sexo e corpo espiritual [1]

HERMAFRODITISMO E UNISSEXUALIDADE — Examinando o instinto sexual em sua complexidade nas linhas multiformes da vida, convêm lembrar que, por milênios e milênios, o princípio inteligente se demorou no hermafroditismo das plantas, como, por exemplo, nos fanerógamos, em cujas flores os estames e pistilos articulam, respectivamente, elementos masculinos e femininos.

Nas plantas criptogâmicas celulares e vasculares ensaiara longamente a reprodução sexuada, na formação de gametos (anterozóides e oosfera) que muito se aproximam aos dos animais e cuja fecundação se efetua por meios análogos aos que obser­vamos nestes últimos seres.

Depois de muitas metamorfoses que não cabem num estu­do sintético quanto o nosso, caminhou o elemento espiritual, na reprodução monogônica, entre as vastas províncias dos protozoários e metazoários, com a divisão e gemação entre os primeiros, correspondendo à cisão ou estrobilação entre os segun­dos.

Longo tempo foi gasto na evolução do instinto sexual em vários tipos de animais inferiores, alternando-se-lhe os estágios de hermafroditismo com os de unissexualidade para que se lhe aperfeiçoassem as características na direção dos vertebrados.

HERMAFRODITISMO POTENCIAL — Gradativamen­te, aparecem novos fatores de diferenciação, guardando-se, no entanto, os distintivos essenciais, como podemos identificar, ainda agora, no sapo macho adulto um hermafrodita potencial, apesar dos sinais masculinos com que se apresenta, sabendo-se que carrega na região do seu testículo, positivamente acrescido, um ovário elementar aderente, o conhecido corpo de Bidder.

Se extirparmos o testículo, o ovário atrofiado começa a funcionar, por atuação da hipófise, conforme experimentos comprovados, convertendo-se num ovário adulto.

Ocorrência inversa é verificável em cinco a dez por cento de galinhas adultas, isto é, nos indivíduos psiquicamente dispostos, das quais, se retirarmos o ovário esquerdo, também consideravelmente desenvolvido, o ovário direito, rudimentar, tran­substancia-se num testículo que se vitaliza e cresce, na sua parte medular, até então inibida pelos estrogênios do ovário esquerdo.

Nesse fenômeno, aumenta-se-lhes a crista, cantam tipica­mente à maneira do galo e adotam-lhe a conduta sexual mascu­lina.

Registramos esses fatos para demonstrar que entre todos os vertebrados e muito particularmente no homem, herdeiro das mais complicadas experiências psíquicas, nos domínios da reen­carnação, apenas os caracteres morfológicos dos implementos sexuais estão submetidos aos princípios da genética. Isso por­que não é só a figuração das glândulas sexuais que se mostra bi­potencial até certo ponto, pois todo o cosmo orgânico é suscetí­vel de reagir aos hormônios do mesmo sexo ou do sexo contrá­rio, segundo as disposições psíquicas da personalidade.

AÇÃO DOS HORMÔNIOS — Atingindo inequívoco progresso em seus estímulos, o corpo espiritual, desde a proto­forma psicossômica nos animais superiores até o homem, conforme a posição da mente a que serve, determina mais ampla riqueza hormonal.

As glândulas sexuais que então mobiliza são mais com­plexas. Exercem a própria ação pelos hormônios que segregam, arrojando-os no sangue, hormônios esses, femininos ou mascu­linos, que possuem por arcabouço da constituição química, em que se expressam, o núcleo ciclo-pentano-peridrofenantreno, fi­liando-se ao grupo dos esteróis.

Os hormônios estrogênicos, oriundos do ovário, mantêm os caracteres femininos secundários, e os androgênicos, segregados pelo testículo, sustentam os caracteres masculinos da mesma ordem. Produzem ações estimulantes e inibitórias, toda­via, como atendem necessariamente a impulsos e determinações da mente, por intermédio do corpo espiritual, incentivam o desenvolvimento ou a maneira de proceder da espécie, mas não os origina.

Por isso, nenhum deles possui ação monopolizadora no mundo orgânico, não obstante patentearem essa ou aquela influência de modo mais amplo.

Ainda em razão do mesmo princípio que lhes vige na for­mação, pelo qual obedecem às vibrações incessantes do campo mental, os hormônios não se armazenam: transformam-se rapidamente ou sofrem apressada expulsão nos movimentos excre­tórios.

Entendendo-se os recursos da reprodução como engrena­gens e mecanismos de que o Espírito em evolução se vale para a plasmagem das formas físicas, sem que os homens lhe compro­vem, de modo absoluto, as qualidades mais íntimas, é fácil re­conhecer que as glândulas sexuais e seus hormônios exibem efeitos relativamente específicos.

Inegavelmente, o ovário e os hormônios femininos se res­ponsabilizam pelos distintivos sexuais femininos, mas podem desenvolver alguns deles no macho, prevalecendo as mesmas diretrizes para o testículo e os hormônios que lhe correspondem.

Isso é claramente demonstrável nos experimentos de cas­tração, enxertos e injeções hormonais, porquanto, apesar de a ação sexual específica do testículo e do ovário apresentar-se como fato indiscutível, a gônada, refletindo os estados da men­te, herdeira direta de experiências inumeráveis, eventualmente produz certa quantidade de hormônios heterossexuais e, da mes­ma sorte, ainda que os hormônios sexuais se afirmem com ativi­dade específica intensa, em determinados acontecimentos reali­zam essa ou aquela ação em órgãos do sexo oposto.

Esses são os efeitos heterossexuais ou bissexuais das glândulas ou dos hormônios.

ORIGEM DO INSTINTO SEXUAL — Todas as nossas referências a semelhantes peças do trabalho biológico, nos reinos da Natureza, objetivam simplesmente demonstrar que, além da trama de recursos somáticos, a alma guarda a sua individualidade sexual intrínseca, a definir-se na feminilidade ou na mas­culinidade, conforme os característicos acentuadamente passi­vos ou claramente ativos que lhe sejam próprios.

A sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veícu­lo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura com­plexa.

E o instinto sexual, por isso mesmo, traduzindo amor em expansão no tempo, vem das profundezas, para nós ainda inabordáveis, da vida, quando agrupamentos de mônadas celestes se reuniram magneticamente umas às outras para a obra multi­milenária da evolução, ao modo de núcleos e eletrões na tessitu­ra dos átomos, ou dos sóis e dos mundos nos sistemas macro­cósmicos da Imensidade.

Por ele, as criaturas transitam de caminho a caminho, nos domínios da experimentação multifária, adquirindo as qualidades de que necessitam; com ele, vestem-se da forma física, em condições anômalas, atendendo a sentenças regeneradoras na lei de causa e efeito ou cumprindo instruções especiais com fins de trabalho justo.

O sexo é, portanto, mental em seus impulsos e manifesta­ções, transcendendo quaisquer impositivos da forma em que se exprime, não obstante reconhecermos que a maioria das consciências encarnadas permanecem seguramente ajustadas à siner­gia mente-corpo, em marcha para mais vasta complexidade de conhecimento e emoção.

EVOLUÇÃO DO AMOR — Entretanto, importa reco­nhecer que à medida que se nos dilata o afastamento da animali­dade quase absoluta, para a integração com a Humanidade, o amor assume dimensões mais elevadas, tanto para os que se verticalizam na virtude como para os que se horizontalizam na inteligência.

Nos primeiros, cujos sentimentos se alteiam para as Esfe­ras Superiores, o amor se ilumina e purifica, mas ainda é instin­to sexual nos mais nobres aspectos, imanizando-se às forças com que se afina em radiante ascensão para Deus.

Nos segundos, cujas emoções se complicam, o amor se requinta, transubstanciando-se o instinto sexual em constante exigência de satisfação imoderada do “eu”.

De conformidade com a Psicanálise, que vê na atividade sexual a procura incessante de prazer, concordamos em que uns, na própria sublimação, demandam o prazer da Criação, identificando-se com a Origem Divina do Universo, enquanto que outros se fixam no encalço do prazer desenfreado e egoístico da auto-adoração.

Os primeiros aprendem a amar com Deus.

Os segundos aspiram a ser amados a qualquer preço.

A energia natural do sexo, inerente à própria vida em si, gera cargas magnéticas em todos os seres, pela função criadora de que se reveste, cargas que se caracterizam com potenciais ní­tidos de atração no sistema psíquico de cada um e que, em se acumulando, invadem todos os campos sensíveis da alma, como que a lhe obliterar os mecanismos outros de ação, qual se esti­véssemos diante de usina reclamando controle adequado.

Ao nível dos brutos ou daqueles que lhes renteiam a con­dição, a descarga de semelhante energia se efetua, indiscriminadamente, atravês de contatos, quase sempre desregrados e infelizes, que lhes carreiam, em conseqüência, a exaustão e o sofri­mento como processos educativos.

POLIGAMIA E MONOGAMIA — O instinto sexual, en­tão, a desvairar-se na poligamia, traça para si mesmo largo ro­teiro de aprendizagem a que não escapará pela matemática do destino que nós mesmos criamos.

Entretanto, quanto mais se integra a alma no plano da res­ponsabilidade moral para com a vida, mais apreende o impositi­vo da disciplina própria, a fim de estabelecer, com o dom de amar que lhe é intrínseco, novos programas de trabalho que lhe facultem acesso aos planos superiores.

O instinto sexual nessa fase da evolução não encontra ale­gria completa senão em contato com outro ser que demonstre plena afinidade, porquanto a liberação da energia, que lhe é pe­culiar, do ponto de vista do governo emotivo, solicita compen­sação de força igual, na escala das vibrações magnéticas.

Em semelhante eminência, a monogamia é o clima espon­tâneo do ser humano, de vez que dentro dela realiza, naturalmente, com a alma eleita de suas aspirações a união ideal do ra­ciocínio e do sentimento, com a perfeita associação dos recur­sos ativos e passivos, na constituição do binário de forças, capaz de criar não apenas formas físicas, para a encarnação de ou­tras almas na Terra, mas também as grandes obras do coração e da inteligência, suscitando a extensão da beleza e do amor, da sabedoria e da glória espiritual que vertem, constantes, da Cria­ção Divina.

ALIMENTO ESPIRITUAL — Há, por isso, consórcios de infinita gradação no Plano Terrestre e no Plano Espiritual, nos quais os elementos sutis de comunhão prevalecem acima das linhas morfológicas do vaso físico, por se ajustarem ao sis­tema psíquico, antes que às engrenagens da carne, em circuitos substanciais de energia.

Contudo, até que o Espírito consiga purificar as pró­prias impressões, além da ganga sensorial, em que habitual­mente se desregra no narcisismo obcecante, valendo-se de outros seres para satisfazer a volúpia de hipertrofiar-se psi­quicamente no prazer de si mesmo, numerosas reencarnações instrutivas e reparadoras se Lhe debitam no livro da vida, por­que não cogita exclusivamente do próprio prazer sem lesar os outros, e toda vez que lesa alguém abre nova conta resgatável em tempo certo.

Isso ocorre porque o instinto sexual não é apenas agente de reprodução entre as formas superiores, mas, acima de tudo, é o reconstituinte das forças espirituais, pelo qual as criaturas encarnadas ou desencarnadas se alimentam mutuamente, na per­muta de raios psíquico-magnéticos que lhes são necessários ao progresso.

Os espíritos santificados, em cuja natureza superevolvida o instinto sexual se diviniza, estão relativamente unidos aos Es­píritos Glorificados, em que descobrem as representações de Deus que procuram, recolhendo de semelhantes entidades as cargas magnéticas sublimadas, por eles próprios liberadas no êxtase espiritual.

De outro lado, as almas primitivas comunmente lhe gastam a força em excessos que lhes impõem duras lições.

Entre os espíritos santificados e as almas primitivas, mi­lhões de criaturas conscientes, viajando da rude animalidade para a Humanidade enobrecida, em muitas ocasiões se arrojam a experiências menos dignas, privando a companheira ou o companheiro do alimento psíquico a que nos reportamos, interrompendo a comunhão sexual que lhes alentava a euforia, e, se as forças sexuais não se encontram suficientemente controladas por valores morais nas vítimas, surgem, freqüentemente, longos processos de desespero ou de delinquência.

ENFERMIDADES DO INSTINTO SEXUAL — As cargas magnéticas do instinto, acumuladas e desbordantes na personalidade, à falta de sólido socorro íntimo para que se canalizem na direção do bem, obliteram as faculdades, ainda vacilantes, do discernimento e, à maneira do esfaimado, alheio ao bom senso, a criatura lesada em seu equilíbrio sexual costuma entregar-se à rebelião e à loucura em síndromes espiri­tuais de ciúme ou despeito. À face das torturas genésicas a que se vê relegada, gera aflitivas contas cármicas a lhe vergastarem a alma no espaço e a lhe retardarem o progresso no tempo.

Daí nascem as psiconeuroses, os colapsos nervosos de­correntes do trauma nas sinergias do corpo espiritual, as fobias numerosas, a “histeria de conversão”, a “histeria de angústia”, os “desvios da libido”, a neurose obsessiva, as psicoses e as fixações mentais diversas que originam na ciência de hoje as in­dagações e os conceitos da psicologia de profundidade, na esfe­ra da Psicanálise, que identifica as enfermidades ou desajustes do instinto sexual sem oferecer-lhes medicação adequada, por­que apenas o conhecimento superior, gravado na própria alma, pode opor barreiras à extensão do conflito existente, traçando caminhos novos à energia criadora do sexo, quando em perigo­so desequilíbrio.

Desse modo, por semelhantes ruturas dos sistemas psicos­somáticos, harmonizados em permutas de cargas magnéticas afins, no terreno da sexualidade física ou exclusivamente psíquica, é que múltiplos sofrimentos são contraídos por nós todos, no decurso dos séculos, porquanto, se forjamos inquietações e problemas nos outros, com o instinto sexual, é justo venhamos a solucioná-los em ocasião adequada, recebendo por filhos e as­sociados de destino, entre as fronteiras domésticas, todos aque­les que constituímos credores do nosso amor e da nossa renún­cia, atravessando, muitas vezes, padecimentos inomináveis para assegurar-lhes o refazimento preciso.

Compreendamos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual, e conseqüentemente no corpo fí­sico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo.

 

Pedro Leopoldo, 30/3/58.

 

 

Determinação de sexo [2]

 

— Como devemos encarar a possibilidade de a ciência humana patrocinar a determinação de sexo no início da gestação?

Compreendendo-se que nos vertebrados o desenho gonadal ­se reveste de potencialidades bissexuais no começo da formação, é claramente possível a intervenção da ciência terrestre na determinação do sexo, na primeira fase da vida embrioná­ria; contudo, importa considerar que semelhante ingerência na esfera dos destinos humanos traria conseqüências imprevisíveis à organização moral, entre as criaturas, porque essa atuação indébita se verificaria apenas no campo morfológico, impondo talvez inversões desnecessárias e imprimindo graves complica­ções ao foro íntimo de quantos fossem submetidos a tais processos de experimentação, positivamente contrários à inteligência que reflete a Sabedoria de Deus.

 

Pedro Leopoldo, 15/6/58.

 

[1] Primeira parte - Cap. XVIII

[2] Segunda parte - Cap. XVI

 

(Mensagem do livro Evolução em dois mundos, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier).

 

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