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Ciências sociais, políticas e econômicas à luz do Espiritismo

SOCIOLOGIA

 

1) A visão sociológica tem-nos mostrado que os focos de tensão social são centros propulsores de problemas sociais, de mudança social. Este enfoque pode ser mudado, se pensarmos num modelo de sociedade mais justo, mais harmônico?

 

O ser humano cresce mediante as lutas que lhe desenvolvem ! capacidade de evolução e as resistências interiores para os enfrentamentos de toda ordem. Numa sociedade injusta, onde vigem a fome, a enfermidade, a insatisfação, a ignorância, são inevitáveis os focos de rebeldia, dando surgimento às inevitáveis revoluções com o derramamento de sangue... Gerando-se fatores de equilíbrio e de igualdade, de direitos justos e deveres dignamente exercidos, graças aos quais, os valores sejam considerados de forma equânime, predominando oportunidades para todos, certamente serão mudados os problemas, que cederão espaço a harmonia social e ao progresso moral das pessoas e grupos.

 

 

2) E possível associar o aumento dos desajustes sociais e até mesmo da criminalidade ao enfraquecimento das Instituições, notadamente a família e a religião?

 

Quando a sociedade se desorganiza, os valores ético-morais encontram-se em decadência, por haverem perdido ou desvirtuado os seus conteúdos valiosos de sustentação. As Instituições, por isso mesmo, neste momento experimentam desequilíbrio, e o respeito pelo homem, pela sua dignidade, pela vida, cede lugar à agressão, aos desajustes, ao crime, à desonra, que assumem proporções perturbadoras. Infelizmente tem sido assim, em todas as épocas do processo histórico da Civilização.

Para a preservação da sociedade, é indispensável que a família se apresente estruturada sobre bases de honradez e equilíbrio, sem o que se esfacelam os códigos do amor e do dever dos pais para com os filhos, destes para com aqueles, e sucessivamente em relação aos demais membros do clã e da sociedade.

Nesse contexto, a religião sempre exerceu um papel preponderante, por manter como base dos seus postulados a crença em Deus, na imortalidade da alma e na Justiça Divina. É certo que, em muitos períodos do pensamento primitivo, as paixões religiosas se responsabilizaram por crimes hediondos, cuja memória repugna a consciência social contemporânea. No entanto, a formação religiosa, não mais castradora, não mais temente a Deus, mas sim estruturada no amor, proporciona ao homem a visão otimista da realidade, oferecendo-lhe perspectivas melhores sobre a imortalidade da vida, e que ele enfrentará após o decesso da organização física.

 

 

3) Esse enfraquecimento decorre da descrença nos valores socialmente consagrados ou é dirigido pelos meios de comunicação?

 

A descrença nos valores socialmente consagrados decorre da falta de substância dos mesmos, em razão de serem decorrência de propostas medievais não superadas, que o conhecimento da ciência e da tecnologia vem pondo em cheque, porque incompatíveis com as conquistas já realizadas. Concomitantemente, os meios de comunicação de massa, interessados em reduzir o indivíduo a simples elemento de peso nas avaliações e participações dos seus veículos, estimulam o banal, o vulgar, o imediato, zombando dos valores profundos da alma e da vida, sem oferecer oportunidades para reflexões e aprofundamentos da realidade. Tudo é devorado pela máquina insaciável da pressa e do prazer voluptuoso, que pensa em reduzir quase tudo e todos a alimento da sua voracidade.

Por essa razão, entre outras, cabe à Doutrina Espírita um papel relevante no comportamento dos meios de comunicação, face às suas propostas éticas profundas, que se fundamentam na visão do homem integral, confirmado pela Ciência, e não de um ser parcial, apenas constituído de matéria ou apenas do binômio corpo e alma...

 

 

4) Procedem as preocupações relativamente à superpopulação do planeta?

 

Nas condições egoístas em que vive a atual sociedade, é natural que a superpopulação pareça ameaçar as estruturas econômicas e morais do homem no mundo, trabalhando para que as calamidades da fome, da violência fomentem o seu extermínio. No entanto, a colocação carece de fundamentos legítimos, quando examinada sob a óptica do Espírito.

A Terra tem condições para manter quase cinco vezes mais o número dos seus atuais habitantes, já que nas Esferas espirituais estão programados para a reencarnação mais de vinte bilhões de seres, que aguardam o momento próprio.

Avançando com o progresso, as técnicas para descobertas alimentícias propiciarão recursos para atender a todas as necessidades, particularmente aqueles que podem ser retirados dos oceanos, das terras improdutivas, dos rios, lagos e mares, e, sobretudo, os que poderão ser produzidos em laboratório, diminuindo a voracidade do ser humano que aprenderá, mediante experiências respiratórias elevadas, a retirar do próprio ar inúmeros nutrientes para a preservação da existência corpórea.

Para tanto, serão alcançados níveis mais elevados de consciência, de respeito à Natureza e à Vida.

a) Quais serão as condições de vida de um mundo mais populoso?

 

O desenvolvimento tecnológico e científico da Humanidade evitará uma superpopulação danosa ao equilíbrio moral, social e espiritual do planeta terrestre, criando condições éticas e nobres para o planejamento familiar responsável, quando o homem e a mulher compreenderem as funções reais do sexo e os objetivos existenciais dentro de padrões dignificadores.

Podemos adir que o número de Espíritos reencarnados na Terra não representa a capacidade que o planeta possui, que é a de albergar mais de vinte bilhões que aguardam oportunidade, e se lhe encontram vinculados.

As mudanças que se operarão na sociedade, no que diz respeito à ética-moral, facultarão que outros tantos bilhões de Espíritos possam reencarnar-se sem qualquer prejuízo para a economia social do planeta, porque então, o egoísmo, a indiferença de milhões de criaturas cederão lugar à justiça, à fraternidade e ao amor, fazendo que os povos ricos ofereçam solidariedade aos mais pobres, e que recursos tecnológicos valiosos sejam aplicados para aproveitamento das áreas inóspitas e áridas ! desertos e geleiras - retirando-se alimento dos oceanos e das terras reaproveitadas, bem como nutrindo-se os vegetais diretamente do oxigênio do ar, superada a poluição destruidora que a criatura gananciosa tem produzido na atmosfera e na camada de ozônio que envolvem o planeta.

 

 

5) A criação de guetos modernos: negros, gays, pobres, deficientes, com suas áreas restritas - elevadores de serviço, favelas, jardins residenciais, condomínios fechados com seguranças - não está cooperando de forma concreta para a formação de indivíduos inamistosos, preconceituosos, competitivos, hostis, com respostas altamente agressivas às diversas situações que a vida lhes apresenta?

 

E lamentável que os discutidos direitos humanos sempre apresentados e elaborados desde há mais de duzentos anos, ainda permaneçam desrespeitados, criando-se bolsões segregacionistas e dividindo-se os indivíduos pelas suas tendências, seus recursos, suas preferências, seus limites de variada natureza. No entanto, embora isso demonstre o atraso cultural dos povos e da época que se vive na Terra, já representa um passo para a futura fraternidade, porquanto o método, sem dúvida, infeliz, não impede que cada qual viva sem pública perseguição, que antes culminava no encarceramento, no degredo, na morte...

A vida impõe-se inevitavelmente como é na sua estrutura, despertando desagrado no começo, depois aceitação e, por fim, sendo incorporada ao cotidiano de todas as criaturas.

Cumpre a todo homem sadio, moral e culturalmente, combater qualquer tipo de separatismo, de perseguição pública ou disfarçada.

Numa época de violência, de desrespeito aos valores adquiridos, para a criatura humana, sem dúvida, são necessárias certas providências de defesa, assim como para a sua família, em razão da escassez de providências governamentais, não implicando, todavia, na formação de novos guetos, cujos resultados são sempre negativos.

 

 

6) O desenvolvimento da consciência crítica em todos os cidadãos é o melhor caminho para desvendarmos e resolvermos os problemas sociais, que todas as ideologias promovem em favor do grupo dominante de uma sociedade?

Para que seja lograda uma consciência crítica de ordem coletiva, partindo do indivíduo, é necessário considerarmos o nível de responsabilidade moral do cidadão, sem o que, a sua será apenas uma visão social, sem os alicerces do sentimento, que é fator propiciatório da compreensão dos limites de cada qual.

Será ideal o dia em que ocorra essa conquista pela qual deveremos todos trabalhar afanosamente, de modo a libertar o indivíduo de um dos seus maiores adversários que é a ignorância da sua realidade, valorizando o grupo social no qual se encontra e se movimenta. Consciente dos seus direitos e de como tem sido vítima de injustiças, disporá de valiosos recursos para lutar contra a classe dominadora que o escraviza, utilizando-se das armas da análise e debate dos fatos, gerando a revolução das mentes honradas em favor dos valores igualitários a que todos têm direito. Somente com essa conquista será possível aguardar-se uma sociedade mais harmônica e equânime.

 

 

7) E possível pensarmos que a desigualdade social, foco central de estudo da Sociologia, será superada? Como?

 

Podemos e devemos pensar na construção de uma sociedade justa, sem desigualdades, e essa é uma das metas nobres do Espiritismo aliado ao pensamento da Sociologia. Enfrentaremos certamente um grande desafio, que ainda perdurará, que é a desigualdade moral dos indivíduos, em razão do seu estágio de evolução espiritual, que sendo primário gerará, assim, as injustiças que ainda grassam na Terra.

O processo de desenvolvimento se faz pela transformação moral do homem, graças à qual ele contribui em favor da organização social. Enquanto não haja uma real modificação interior, permanecerão os focos de conflitos, os bolsões de preconceito e perseguição, de miséria e abandono. No entanto, marchamos para a construção de uma sociedade nobre, na qual todos desfrutem dos mesmos direitos e deveres, desaparecendo as perturbadoras injunções que promovem as desigualdades entre os seres humanos.

Faz-se necessário, desse modo, que a obra da Educação tenha prioridade, trabalhando o indivíduo de dentro para fora, a fim de que encontre o seu lugar ao Sol, e possa cooperar em favor da sociedade melhor, que a reencarnação irá propiciando, mas que pode ser antecipada, se os governos e os cidadãos se unirem para realizá-la desde já.

 

8) Se o indivíduo e a sociedade são complementares, interdependentes, como encarar a sociedade como reflexo somatório individual, ou o indivíduo como fruto do determinismo social? Estes enfoques de indivíduo e de sociedade não estão superados?

 

O instinto gregário é responsável, no ser humano, pela necessidade do grupo social como mecanismo de sobrevivência, de proteção e de desenvolvimento da espécie. Atavismo que remanesce do período primário do seu desenvolvimento, mantém a força preservadora que sustenta a espécie e aglutina os indivíduos para crescerem em harmonia. Como consequência, o indivíduo é fator preponderante para a organização da sociedade que, inevitavelmente, passa a ser agente formador de outros indivíduos e de outros grupos.

Assim sendo, é inevitável que o indivíduo seja elemento base da sociedade, dela dependendo no caráter grupai e de relacionamento, ao mesmo tempo sofrendo-lhe as consequências da organização.

No indivíduo, pois, estão as pedras básicas do alicerce social, que devem ser trabalhadas de forma a poderem construir grupos felizes.

 

 

9) Qual, ou quais as técnicas novas de controle social que poderiam ser desenvolvidas para minorar ou acabar com este grande surto de comportamento divergente no Brasil e no mundo?

 

A grande e desconhecida técnica que pode modificar os fatores degenerativos e perturbadores do organismo social, é a que decorre do amor. Referimo-nos ao amorno seu sentido mais profundo, aquele que estabelece paradigmas de deveres e de respeito aos próprios como aos direitos alheios.

As melhores técnicas sociais e políticas até agora apresentadas, ficam ultrapassadas, senão inúteis, quando a força estabelece os direitos de governança sobre as demais pessoas, reduzindo-as a hilotas ou matando-as vilmente em guerras hediondas, nas revoluções sociais que, ao invés de estabelecerem um período de felicidade, quase sempre derrubam uma classe privilegiada e erguem outra ainda mais dominadora e cruel. Assim tem sido, até hoje, o resultado dos denominados movimentos libertários, que não têm como alicerce Deus, e a criatura como representação divina, credora de respeito e digna de experienciar os seus direitos de ser humano.

Toda técnica, portanto, que se estriba no materialismo, logo se converte em mecanismo de opressão, assim passem os entusiasmos iniciais que, de alguma forma, nessa primeira fase se revestem de vandalismo e agressão aos que entram em decadência e são expulsos, aprisionados, exilados, assassinados pelos vitoriosos. E, mais tarde, quando desaparecem os seus líderes, os filósofos idealistas, os mais perversos e hábeis assumem o poder, disseminando os seus conceitos de opressão para se manterem dominadores muito embora a destruição de vidas incontáveis.

 

 

10) Se até o próprio fenômeno científico pode ser visto também como um fenômeno ideológico, o que fazer para construirmos uma sociedade mais justa, mais verdadeira e não utópica?

 

O maior fenômeno ideológico transformador de que se tem notícia é o amor, que ainda não teve oportunidade de expressar- se em profundidade.

Predominando no homem a natureza animal em detrimento da sua natureza espiritual, os instintos agressivos governam-no, impedindo que se instale no seu imo esse sentimento libertador, que pode modificar as estruturas do comportamento humano, libertando-o das aspirações utópicas, portanto, equívocas, a fim de apresentar-se a realidade sem as marcas danosas do pessimismo, do fatalismo, do aniquilamento.

Recordando-nos de todos aqueles que se fizeram paradigmas do amor e foram assassinados pela arbitrariedade do poder temporal, nos mais diferentes campos do conhecimento e do pensamento humano, constatamos que as suas lições modificaram outras vidas, que se tomaram, a pouco e pouco, modelos para a edificação da Humanidade melhor pela qual todos lutamos.

 

 

11) Vivemos hoje em um mundo marcado pela fragmentação, pela globalização e pelo desenvolvimento meteórico da Informática. Podemos, do Brasil, falar com qualquer país do mundo sobre qualquer produto elaborado em outra Nação. Enquanto isso, famílias enfrentam condições sub-humanas para conseguirem ao menos o alimento que as manterá vivas. Como aceitar que o mundo está em pleno desenvolvimento e caminhando para a justiça social com tantas disparidades existentes?

 

Lamentavelmente, por enquanto, o progresso, na Terra, ainda se faz por etapas, em razão de ser o planeta um mundo de provas e de expiações, conforme bem acentuou Allan Kardec. Durante um período há a predominância do desenvolvimento artístico, em outro, o crescimento cultural, noutra fase a valorização moral, posteriormente o aprimoramento tecnológico... Este é o século da tecnologia por excelência que, de alguma forma, se traz muitos danos para a Humanidade, por outro lado promove- a e dignifica o ser, diminuindo-lhe as dores e as misérias que o crescimento moral poderá eliminar.

O predomínio do egoísmo em a natureza humana responde pelas aflições incontáveis que ainda pairam no organismo social da Terra. As conquistas tecnológicas são neutras em si mesmas, podendo modificar a face do planeta e tomá-lo um mundo

de felicidade, o que não sucede, em razão do despautério e das prerrogativas que se permitem os dominadores arbitrários que assaltam o poder, que dão expansão aos seus sentimentos inferiores, tomando-se responsáveis pela miséria que se alastra sob formas diferentes, todas elas resultado daquela de natureza moral. Por isso, as guerras crueis continuam sucedendo-se com requintes de perversidade, de hediondez que apavora, seja na África, em grande parte primitiva, seja nos países chamados desenvolvidos como a Iugoslávia (hoje dividida em três nações), na Chechênia ou em qualquer outra parte do globo.

Somente a gradual transformação moral do indivíduo modificará a torpe paisagem terrena, construindo uma Humanidade mais saudável, da qual desaparecerão os monstros da fome, da guerra, das perseguições, das enfermidades degenerativas...

 

 

12) Tem sido crescente a participação da mulher no mercado formal de trabalho; ao mesmo tempo ela vem assumindo, em muitos casos, a manutenção da casa e a educação dos filhos. Como analisar esse fato na perspectiva do futuro da família ?

 

Quando os resquícios do comportamento machista cederem lugar aos direitos de igualdade entre homens e mulheres, os primeiros terão idênticos deveres na construção da família e orientação dos filhos. Desaparecerão os tipos retrógrados das sociedades matriarcal como patriarcal, porque a prole é resultado da união de ambos os cônjuges ou parceiros, exigindo a atenção dos mesmos, que deverão trabalhar juntos em favor do equilíbrio doméstico. Os deveres serão equanimemente divididos, conforme já vem acontecendo em algumas comunidades, de acordo com as possibilidades de cada um dos envolvidos na harmonia familial.

Ao homem competem deveres próprios do seu caráter masculino, do seu vigor e tipo de trabalho, enquanto que, à mulher, são propostos labores domésticos compatíveis com a sua estrutura feminina, dócil, maternal, sem qualquer sobrecarga para a sua economia emocional, não se lhe negando o direito à participação no mercado de trabalho.

O lar é o instituto de amor, no qual os adultos caminham na busca de soluções, avançando para o entendimento sem predomínio de um ao outro, tendo-se sempre em vista a felicidade da prole e dos pais, em igualdade de condições.

13) Quais são os outros fatores responsáveis pelo aumento da violência, corrupção, criminalidade e prostituição, além da desigualdade social que sempre existiu e que também gera esses problemas?

 

Os seres humanos encontram-se em diferentes níveis de consciência, em patamares diversos de pensamento, em variados estágios de evolução moral e espiritual. Como consequência, somente a educação e a perseverança podem promovê-los mediante processos de reiteradas experiências, ora educativas, ora reeducativas. Os atuais fatores sociais e econômicos facilitam o desabrochar das tendências inferiores que neles vicejam, levando-os aos desequilíbrios referidos, excetuando-se os Espíritos mais resistentes aos apelos primitivos. Na grande generalidade, sem um conceito vivencial do bem e do mal, do nobre e do equivocado, do certo e do errado, facilmente esses indivíduos enveredam pelos meandros do vício e do crime, esperando inconscientemente contar com a compreensão, ajuda e correção da sociedade mais esclarecida e digna.

 

 

14) Fala-se muito numa Nova Era que deverá surgir após a virada do século. Quais seriam as perspectivas de melhoria para a Humanidade, e quais são as bases de mudança desta para uma outra Era?

 

A evolução é inevitável, porque faz parte dos mecanismos da Vida. Os períodos sucedem-se com as suas conquistas e quedas, cimentando os valores elevados que servem de base para novas aquisições e mais bem consolidadas realizações, que têm por objeto a felicidade de todos.

A Nova Era já começou nas mentes e nos corações que se vêm devotando ao Bem e à Verdade. No entanto, graças a esse processo de evolução, o planeta Terra, qual ocorre com os demais, passa por diferente ciclo na escala dos mundos e avança para um estágio superior, conforme revelaram os Espíritos elevados a Allan Kardec. A Terra deixará de ser mundo de sofrimentos, de exílio espiritual, de recuperações dolorosas, para tornar-se um plano de regeneração, quando a dor mais cruel baterá em retirada e o crime for abandonado, a benefício do cultivo dos deveres e das virtudes. Todo esse processo, no entanto, se dará no indivíduo, de dentro para fora, espontaneamente ou através de ocorrências afligentes, que o convidem a reflexões e mudanças de comportamento.

Não será, como se pretende em algumas áreas religiosas, de um para outro momento; porém, lentamente, sem choques nem violências, sem imposições arbitrárias nem calamidades destruidoras, mas dentro de uma programática dignificante como tudo que é realizado pela Divindade.

 

 

15) A competição e o individualismo são características das sociedades modernas. Seriam apenas explicadas pelo avanço tecnológico gerado pelas relações sociais materialistas que dominam o planeta, ou também têm tudo a ver com a natureza humana decadente, egoísta e imperfeita?

 

Ambas conceituações têm fundamento. Porque o homem e a mulher ainda são predominantemente egoístas, a competitividade injustificável caracteriza-lhes a conduta, já que pensam apenas no momento transitório, olvidados da realidade da vida e da sua perenidade. Ademais, as propostas mercantilistas e hedonistas do prazer como fundamento da vida e única razão de se estar na Terra, fazem que os mesmos se atirem desastradamente uns contra os outros, quando poderiam avançar tranquilamente uns com os outros, ajudando-se e crescendo em harmonia.

Lentamente ocorre no indivíduo um despertar para a valorização de si mesmo, para o auto-amor e, por efeito, o amor aos demais, em cujo grupo se podem estabelecer os mecanismos da felicidade real e fecunda, quando todos compreenderem que felicidade a sós é transtorno esquizofrênico, a dois, apenas, constitui paixão consumidora, mas no grupo de ajuda e apoio, de fraternidade e afeto é manifestação divina, elevada expressão de plenitude.

 

a) Os prejuízos sociais das massas, numa sociedade individualista, podem então ser causados pelo desejo do lucro de alguns?

 

Numa sociedade individualista os interesses de lucro sobrepõem-se aos valores humanos, considerando a criatura como instrumento produtivo, a fim de atender as suas necessidades, cada vez maiores, assim gerando os desperdícios dos poderosos em detrimento das infinitas necessidades dos pobres. Na razão direta em que aumentam os lucros, mais amplas aspirações passam a ter os indivíduos, esquecidos da solidariedade e do amor que todos nos devemos oferecer. Como consequência, as suas leis são injustas, estabelecidas para a defesa dos seus interesses com a imediata redução dos direitos sociais das massas, cada vez mais comprimidas.

Toda forma de individualismo, quase sempre resulta do egoísmo que conduz aos hediondos desvarioS da indiferença e do crime.

 

 

16) Existem fatos ligados à história da Humanidade ainda desconhecidos que, se revelados, poderão mudar o comportamento ou o futuro da mesma?

 

A História registra todo o processo de desenvolvimento dos homens e mulheres, bem como do pensamento e dos fastos que se desenrolaram através dos milênios de realização, de cultura, de ética e de conquistas da Humanidade, mas também das suas quedas, conspirações, degredos, decadências, crimes hediondos que, se revelados sem uma natural maturação do ser psicológico, produziriam tal impacto que poderia modificar o conceito de ser humano, de valores, de significados, de realizações.

Afirmava Cícero, que a História é a pedra de toque que desgasta o erro e faz brilhar a verdade. Entretanto, raramente ocorre assim, porque a História pode ser escrita por interesses políticos e raciais, por paixões primitivas ou pelas aspirações do pensamento elevado. O mesmo fato histórico pode ser exposto sob várias angulações, e todas, possivelmente apresentem sinais de verdade, tendo-se em vista o ângulo de observação de cada narrador. A História real, no entanto, encontra-se escrita nos registros akásicos [1] do mundo espiritual.

 

 

17) Com o desenvolvimento tecnológico temos verificado o aumento do desemprego. Isto não poderá gerar sérios problemas para a população de vários países?

 

Sem dúvida o desemprego é um fantasma que sempre ameaça as comunidades humanas, respondendo por várias expressões da miséria econômica, social e, por consequência, de natureza moral, favorecendo a agressividade e a violência, as fugas espetaculares para os vícios e a delinquência em geral. Todavia, à medida que o desenvolvimento tecnológico anuncia novas conquistas, abrem-se diferentes áreas de serviços, convocando trabalhadores qualificados para o desempenho dos mesmos. Simultaneamente, a consciência coletiva deve superar o egoísmo destruidor dos empresários e administradores que somente pensam em lucro, olvidando-se do compromisso de promoção e dignificação da criatura humana, afinal, a meta do próprio progresso.

Com uma visão humanitária dilatada, será possível perceber-se que o acúmulo de recursos em poucas mãos é sempre responsável pela abundância da miséria em outros segmentos sociais, compreendendo-se então, a necessidade de uma renovação de compromissos, que abrirão espaço para o trabalho digno de todos os indivíduos que, igualmente, perseguirão o bem- estar geral, ao invés de buscarem somente as compensações salariais exclusivistas e pessoais.

 

 

18) Os principais centros de conhecimento do mundo poderão migrar para continentes ou países hoje tidos como pobres?

 

Não necessariamente se fará a transferência dos centros do conhecimento, da cultura e da pesquisa de um para outro lugar, mas se multiplicarão esses núcleos da investigação e do estudo, mantendo intercâmbio constante, graças à própria tecnologia colocada a serviço das suas observações e análises conforme vem acontecendo. Já não existem distâncias geográficas que dificultem quaisquer realizações e trabalhos científicos, porquanto as redes de comunicação facultam a troca de informações com grande velocidade, qual se ocorresse num mesmo edifício. E natural, portanto que, por agora, esses centros de conhecimento se encontrem nos países com melhores possibilidades econômicas, o que faculta o acesso às conquistas da inteligência e à sua colocação prática no mundo.

 

 

19) O homem tem promovido guerras para obtenção de mais poder. Teremos muitas guerras no futuro? Quais os riscos das mesmas?

 

Enquanto o ser humano não se harmonize, viverá em guerra íntima, em desequilíbrio que o aturde e que responde pelas guerras externas. Quando esteja pacificado, gerará a harmonia em toda parte. Assim, o maior poder que se deve objetivar alcançar é sobre si mesmo, conseguindo controlar os instintos agressivos e superar as paixões dissolventes que são responsáveis pelos crimes de todo jaez.

Temos a convicção de que os desatinos humanos ainda produzirão muitas guerras, que dissuadirão o homem da loucura em que se demora, já que as calamidades anteriores não lhe serviram de lição para uma vida verdadeiramente saudável em clima de fraternidade entre as criaturas e as demais Nações.

 

 

20) O comportamento da sociedade poderá ser influenciado, se melhores condições de conhecimento espírita forem oferecidas?

 

O conhecimento elevado sempre liberta o Espírito das suas paixões perturbadoras. Sendo o Espiritismo a Doutrina que penetra a lâmina da investigação no organismo da criatura para identificá-la corretamente, constatando-lhe a indestrutibilidade, porque Espírito imortal, possui os valiosos conhecimentos para modificar as atuais estruturas da sociedade terrestre, facultando-lhe uma alteração completa da forma de conduzir-se e de programar o seu futuro.

O Espiritismo tem como meta prioritária a transformação moral do ser humano para melhor, por consequência, da sociedade como um todo.

Quando os seus postulados forem conhecidos e vividos, haverá uma radical mudança de comportamento em todas as áreas do pensamento e o amor vicejará nos corações, banindo da Terra os monstros do egoísmo, da guerra, da desolação, da infelicidade...

 

 

 

POLÍTICA

 

 

21) O desenvolvimento tecnológico e intelectual fomentará novos sistemas políticos ?

 

Certamente, o homem melhor, mais desenvolvido moral e intelectualmente, apoiado na tecnologia que o impulsiona para a frente, criará sistemas políticos compatíveis com os ideais que abraça, as aspirações que acalenta e os labores que realiza.

A política tem sido instrumento mal utilizado por homens e mulheres ambiciosos, esquecidos dos valores éticos, salvadas as exceções compreensíveis.

Quando se entenda que a política é poderoso instrumento de construção da sociedade, e se esteja moralmente adiantado para colocar em plano secundário os interesses pessoais, zelando pelos coletivos, serão criados novos sistemas e métodos de trabalho que elaborarão regimes justos e nobres, que atendam as necessidades do povo, sempre preterido, desrespeitado e oprimido através da História.

 

 

22) E constitucionalmente viável o liberalismo político com economia dirigida aos interesses da maioria faminta?

 

Quando os interesses dos grupos dominantes cederem em benefício das necessidades gerais, se poderão elaborar estudos e programas políticos liberais, constitucionalmente voltados para atender a grande maioria que padece fome e outras carências que podem ser diminuídas.

 

 

23) E possível o fortalecimento das Instituições sociais e a redução ou eliminação dos desajustes através da revisão dos sistemas políticos, jurídicos e econômicos?

 

Naturalmente, havendo uma revisão dos sistemas políticos - mediante ajustamento dos seus conteúdos às necessidades reais das massas, em detrimento dos interesses apaixonados do partidarismo e de suas negociações nem sempre dignas −; jurídicos − por meio de Leis justas, que objetivem atender as imposições do progresso, sem as falhas que, habitualmente, são detectadas, mas, raramente alteradas, porque servem para conciliar as dominações farisaicas de grupos privilegiados, quase nunca alcançados pela Justiça −; econômicos − abrindo-se campo de trabalho para todos, com os consequentes direitos de repouso, recreação, saúde e educação, que devem vigerem todos os sistemas humanos dignos − ocorrerá diminuição e, a passo largo, a eliminação dos desajustes que fazem parte dos grupamentos humanos em sociedade.

E certo que tal ocorrência somente se tomará factível, quando o homem se fizer melhor interiormente, trabalhando-se com afinco e estabelecendo metas de engrandecimento moral mediante as quais despertará para os valores reais da vida, e, portanto, para a solidariedade, o amor e a justiça.

 

 

24) Vale a pena mudar os regimes sócio-econômico e sociopolítico do país, alterando o quadro de miséria, violência e exclusão social, enquanto a maioria das pessoas continua escrava de preconceitos, de individualismo e atitudes egoístas?

 

Enquanto não sejam estabelecidas Leis justas, que objetivem combater a miséria sócio-econômica que decorre do egoísmo, esse grande gerador da miséria moral - será impossível diminuir o sofrimento de milhões de seres que padecem escassez quase absoluta do necessário para uma existência digna, ou pelo menos suportável nas atuais condições de vida na Terra.

Somente, portanto, através de uma mudança de regime sociopolítico e sócio-econômico, é que se poderão criar condições dignificantes para o ser humano, a fim de que o mesmo se liberte da desagregação perversa, conforme vem ocorrendo em inúmeros setores da sociedade.

Em uma cultura que se apresenta como responsável pelo desenvolvimento da civilização não pode existir a miséria econômica; não há lugar para a presença da fome, do desemprego, do abandono moral e social a que são relegados os pobres, que estorcegam nos guetos de sofrimentos a que são atirados.

 

 

25) Para o Terceiro Milênio, não se toma cada vez mais premente falarmos de analfabetismo político, analfabetismo espiritual, do que de analfabeto de leitura e escrita?

 

Sem dúvida, a ignorância é o grande inimigo do ser humano. Seja ele desconhecedor dos valores espirituais, que são a base de formação da vida sob quaisquer aspectos considerada ou de outra forma de entendimento, de que depende para o desenvolvimento intelecto-moral, sem o que permanece nas faixas mais primárias do processo de crescimento. Assim sendo, a pior ignorância é a que decorre do desconhecimento das Leis de Deus que regem o Universo, da sua realidade de Espírito imortal, dos compromissos que tem em relação à vida, ao seu próximo e a si mesmo. Os outros são consequência inevitável desse primeiro, mais importante e mais urgente. Brutalizado, o ser estertora no analfabetismo em relação às Letras e às Artes, à beleza e aos deveres. Não obstante, existem casos em que, analfabeto, no que tange às questões intelectuais, o Espírito em prova, possui ínsito o discernimento que o auxilia a reparar os males causados anteriormente e a crescer nas novas experiências.

Conhecedor dos seus deveres e direitos espirituais, ele se socializa e adquire capacidade política, a fim de contribuir em favor da evolução da Humanidade, conquistando, de forma consciente, a sua cidadania.

 

 

 

SOCIALISMO

 

26) Vários revolucionários pregaram mudanças sociais, justiça social, distribuição de Renda, igualdade entre os homens, etc. Não seria um paradoxo constatar-se que os movimentos que mais trataram de igualdade e justiça foram baseados numa visão materialista da História e da realidade? Um dos maiores defensores da justiça social, Karl Marx, era um revolucionário materialista. Seria possível seguira Doutrina Espírita sem abrir mão de alguns conceitos marxistas (lutas de classes, alienação do trabalhador, modo de produção, mais-valia, entre outros), ou o marxismo seria uma boa explicação para as diferenças impostas pelos processos reencarnatórios?

 

Infelizmente, o egoísmo, essa terrível chaga da Humanidade, que um dia há de desaparecer da Terra, tem sido o grande responsável pelas misérias humanas. Não obstante as religiões preconizarem o amor e demonstrarem que o mesmo é a única solução para os magnos problemas existenciais, sociais e humanos, a sua prática, nessas diferentes doutrinas, tem sido essencialmente caracterizada pela sua ausência, pela crueldade, pelos crimes hediondos, de modo que cada qual exerça sobre as demais uma predominância injustificável. Falindo nos seus objetivos mais elevados, que são os de dignificar o ser humano e conduzi-lo com segurança no rumo da felicidade, as organizações religiosas têm-se ligado aos Estados, a fim de sobreviverem, tomando as rédeas do poder nas suas mãos vigorosas e vivendo os seus adeptos distanciados dos seus ensinamentos libertadores. Como consequência, incontáveis homens idealistas, decepcionados com a conduta dos religiosos, abdicaram da fé cega e irracional, adotando o comportamento materialista, tomados de paixão ardorosa pela tentativa de solucionarem os terríveis problemas sociais, econômicos e morais. Sem os estímulos nem a segurança de uma fé religiosa racional, infelizmente, descambam, também, por sua vez, em outra ordem de crimes, tomando-se crueis e destruidores, procurando justificar os meios ignóbeis que usam para verem triunfar os seus objetivos com a perspectiva de que desejam fins nobres. Nunca, porém, os instrumentos do terror podem servir de mecanismos dignos para serem alcançados resultados felizes.

Através do Espiritismo, que conclama o homem à responsabilidade, é factível estabelecer-se a justiça social, evitando-se as lutas de classe com mão armada, a alienação do trabalhador, dando-lhe dignidade, facultando-lhe estímulos para progredir através de maior e melhor produção, sem que se tome necessário induzi-lo à derrubada dos dominadores de um momento, de forma que surjam futuros títeres conforme tem ocorrido.

O marxismo seria uma proposta sócio-econômica feliz, não se assentasse no materialismo dialético, cuja eficiência ficou falida, na recente experiência dos países socialistas do bloco soviético como de outros Estados.

Através dos mecanismos da reencarnação os fenômenos sociais e econômicos se harmonizarão, porque o homem compreenderá, por fim, que mediante a forma como semear, assim colherá e somente através de uma conduta compatível com o amor, em regime de consciência de si mesmo, é que logrará transformar-se, alterando para melhor a sociedade na qual se encontra.

 

 

27) Quais erros ou incongruências podem ser apontados no materialismo histórico dialético? Como tem pesado nas mudanças sociais deste final de século?

 

O materialismo, sob qualquer forma em que se apresente, é sempre uma atitude de rebeldia do homem em relação à vida, porque não lhe soluciona o problema existencial em toda a complexidade na qual se apresenta. Pode atender a algumas exigências imediatas, mas não aos profundos questionamentos morais, espirituais, eternos. Na sua proposta específica se encontra o erro fundamental: matar Deus e a alma, que é também a forma de matar o homem...

Face às posturas das religiões dominantes, aliadas sempre ao poder temporal e compactuando com as injustiças sociais, foi aberto espaço para a revolução do pensamento, que deu origem ao materialismo histórico, ao dialético, que trouxe inestimável contribuição social durante largo período deste século, não havendo resolvido porém o problema do homem em si mesmo, inquieto e sofredor, que derrapou pela senda da violência, por falta de suporte moral e espiritual. Embora haja contribuído para despertar algumas consciências para os inalienáveis direitos da criatura humana, realmente não tem sido de relevante valia para as mudanças sociais deste final de milênio, em razão do seu total fracasso nos países que lhe têm sofrido o talante e onde a miséria não é menor do que nos outros de conduta igualmente perversa, graças ao capitalismo devorador.

 

 

28) Como podemos interpretar a crise do Socialismo? Devemos acreditar na reinvenção de novas formas de solidariedade? (Socialismo visto como norte social, como projeto de sociedade.)

 

Toda doutrina que se toma arbitrária, violentando os direitos humanos, por mais triunfante é sempre de efêmera duração. O homem nasceu para ser livre - nem libertino, nem escravo - porquanto essa é Lei do Universo.

Dessa forma, quando a proposta socialista, embora os seus fundamentos materialistas, foi transformada em arma de dominação, passou a falhar nas próprias bases, que são a felicidade do ser e o equilíbrio sócio-econômico da Humanidade. No entanto, sem o conceito da imortalidade da alma e da Justiça Divina, da vigência do amor como norte espiritual do ser e da solidariedade - que I uma forma humanitária de caridade − qualquer proposta de felicidade para a sociedade tombará por falta de sustentação emocional e moral, porque serão aplicados quaisquer meios como tentativa de justificar os fins que pretendem ser dignificadores.

 

 

29) O fato social religioso foi decisivo na reestruturação da perestroika, que se tomou necessária para a manutenção dos países soviéticos?

 

Somos de parecer que os fatores predominantes na reestruturação da perestroika foram os de natureza sociopolítica e sócio-econômica. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas encontrava-se exaurida economicamente para poder manter o seu programa militar. As necessidades de vária ordem assolavam em toda parte gerando inquietação social que a mão de ferro da ditadura esmagava cruelmente. A fome grassava e a dominação política do partido comunista gerava insatisfações, em razão das vantagens desfrutadas pelos membros do Politiburo, enquanto o povo sofria vergonhosamente asfixiado pelo poder. A filosofia da Revolução de 1917, que se apresentava como salvadora dos oprimidos, estava esquecida, e dominava o terror onde se houvera instalado, gerando novas classes operárias cujo patrão perverso era o Estado, insensível e insatisfeito sempre, exigindo mais subserviência e produção. Como toda ditadura é poder arbitrário, e sobrevive através da traição, da perseguição, do crime disfarçado com o manto da legalidade, já não havia como sobreviver. Diante desse quadro assustador, o senhor Mikhail Gorbachev, conhecendo o drama do seu povo e das demais Repúblicas sob sua governança, inspirado pelas Forças Poderosas do Bem, levantou-se e abriu as portas da colossal fortaleza para que a liberdade entrasse vitoriosa.

Certamente, a religião submetida não contribuiu, tão decisivamente, para a libertação do povo oprimido, porque as Doutrinas ortodoxas também estavam comprometidas com o poder temporal e, com o seu luxo e dogmas, têm pouco para oferecer à sociedade. Mas, o sentimento religioso, que é inato na criatura humana, não mais suportou a opressão gigantesca e asfixiante, e reagiu em favor da ruptura das algemas escravagistas.

 

 

30) As recentes quedas dos regimes econômicos socialistas do leste europeu podem repercutir negativamente na legislação dos povos do ocidente?

 

A economia socialista, nas bases do materialismo ateu, não conseguiu resolver o problema dos povos para os quais foi dirigida. Enquanto esteve sob a mão de ferro dos regimes totalitários parecia atender as problemáticas existentes nos países onde era aplicada. No entanto, quando tombaram as restrições impiedosas, constatou-se a crueldade das suas fórmulas e aplicações como forma de manter as populações que lhes padeciam as exigências.

A distribuição de riquezas sob o comando de governos cruéis peca pela base, porque novas classes privilegiadas substituem as que foram esmagadas, passando a desfrutar de favores e benefícios injustificáveis.

Da mesma forma, a economia nas bases do capitalismo conforme vem sendo aplicada, fomenta a miséria dos povos, já que abastece os poderosos, aumentando-lhes a fortuna enquanto os menos favorecidos continuam impossibilitados de libertar-se da miséria.

Assim sendo, não cremos que a decadência dos regimes socialistas do leste europeu provoquem significativas alterações na legislação dos povos ocidentais.

 

 

 

ECONOMIA

 

31) Tendo em vista a utilização de menos mão de obra pela indústria, não será necessária a inversão do fluxo migratório campo-cidade já no próximo século?

 

O problema não reside na questão da mão de obra útil ou desnecessária para mudar a paisagem do fluxo migratório do homem do campo para a cidade, mas de uma política justa e digna de sua fixação à terra. Enquanto os governos dos países tecnologicamente desenvolvidos ou não, não trabalharem leis dignas e providenciarem recursos para facultar a permanência do homem no solo a cultivar, a ilusão da cidade sempre o chamará, apresentando-lhe falsas perspectivas de uma vida melhor, em razão das facilidades, que parecem existir nos meios urbanos, enquanto que, na área onde vive, com a desolação, a fome, a sede, as pragas, o esquecimento das autoridades, a sua é a morte certa e sem piedade...

A questão, portanto, é mais grave, porque dependerá da lucidez e da responsabilidade dos governos, que se devem voltar para uma análise séria e profunda dos problemas agrários, que estão exigindo soluções urgentes antes que sucedam calamidades imprevisíveis.

 

 

32) Qual a responsabilidade daqueles que, em nome do lucro, expõem seus semelhantes para seu sustento material?

 

Toda forma de exploração humana é atentatória aos códigos da Divina Justiça. O homem deve trabalhar com o próprio esforço, a fim de conseguir o sustento material, e a Natureza jamais lhe negará aquilo de que necessita. O supérfluo é condenável, quando muitos têm carência ou vivem do pouco que conseguem.

Utilizar-se do seu semelhante, expondo-o a humilhações sob qualquer pretexto, particularmente em razão das suas fraquezas, e disso tirando proveito, malsinando suas horas, cultivando-lhe ou estimulando-lhe as paixões inferiores, constitui crime que não passará incólume ao despertar da própria consciência como diante da Cósmica.

 

 

33) Todos os homens estão sujeitos à Lei do trabalho, ainda que dele não dependam para seu sustento material?

 

Certamente, todos os seres estamos sujeitos à Lei do trabalho, que rege a harmonia do Cosmo. Jesus acentuou com muita propriedade: − Meu Pai até hoje trabalha e eu também trabalho, ensinando-nos que o trabalho é Lei da Vida a que todos estamos submetidos.

O trabalho não deve ter por meta prioritária somente lucros materiais, respostas em salários e prêmios, mas sim, também, a satisfação de seguir a dinâmica da Vida, auxiliando e fomentando o progresso das pessoas e dos povos bem como a beleza e a harmonia do planeta.

A ociosidade é matriz de muitos males que atormentam os seres humanos, particularmente gerando perturbações emocionais e desajustes comportamentais.

Quando o indivíduo não tiver necessidade de trabalhar para o próprio sustento, poderá dedicar-se às obras de benemerência, de engrandecimento social, de solidariedade humana, contribuindo para amenizar as provações e dores dos desafortunados, mediante cuja contribuição se sentirá dignificado e membro atuante do conjunto social no qual se encontra.

 

 

34) O desenvolvimento econômico-tecnológico no mundo moderno não resolveu de forma significativa o problema da miséria. Há perspectivas de mudança nesse processo?

 

Tem-se pensado, do ponto de vista sociológico, nas criaturas formando um todo, ou constituindo grupos que se devem ajudar, de forma que o conjunto experimente harmonia. Como tese, é legítima a aspiração. No entanto, o grande problema é o indivíduo em si mesmo. Enquanto nele vicejem as manifestações de natureza primitiva, egoísticas, encontrará forma de constituir um grupo social privilegiado que se imporá aos demais, fruindo além das possibilidades de gozar com esquecimento das demais criaturas.

A mudança se dará, conforme já vem ocorrendo, quando cada um se dê conta que é impossível ser feliz a sós, possuindo e possuído pela posse, com esquecimento do grupo social no qual é obrigado a movimentar-se. Esse comportamento infeliz que vem sendo mantido já apavora os arbitrários dominadores, porque aumenta o cerco do cinturão da miséria em toda parte e a sua falsa segurança começa a desaparecer.

Ao mesmo tempo, a violência urbana, que é um dos filhos perversos dessa miséria, passa a rondar sistematicamente os poderosos, que se verão obrigados a encontrar soluções de emergência para resguardar-se, e concluirão que a única saída legítima é a da solidariedade, que proporciona trabalho digno, assistência nobre e oportunidades a todos para o seu crescimento e a sua existência feliz.

 

 

35) A forma de desenvolvimento econômico e tecnológico predominante no mundo atual tem resultado no crescente desemprego e na desvalorização do trabalho humano. Quais as consequências desses fatos para o desenvolvimento espiritual da sociedade? Como é visto o papel do Estado nesse processo?

 

A Ciência, aliando-se à Tecnologia, vem logrando feitos extraordinários com perspectivas audaciosas de efeitos imprevisíveis. O universo se amplia e as micropartículas facultam concepções que alcançam quase a fantasia. No entanto, a aplicação exacerbada do conhecimento em favor da comodidade de alguns, vem criando a robotização do ser humano que, de um lado, perde a sua identidade e, por outro, toma-se descartável nas operações industriais, comerciais e outras, sendo vítima do desemprego, e sofrendo situações lamentáveis de miséria moral, econômica, social...

Chega o momento no qual as autoridades terão que mudar o comportamento em tomo da finalidade do progresso, particularmente direcionado para o bem do cidadão que não pode ficar marginalizado no grupo social.

A experiência vem demonstrando que a interferência do Estado como regulador do processo de desenvolvimento econômico tem redundado em desastre, porque o mesmo é sempre um péssimo patrão que sofre a interferência dos partidos políticos em predominância em cada período governamental.

A questão, portanto, resume-se na educação moral e espiritual do indivíduo, a fim de que nunca se olvide que a sua é a função de edificação de si mesmo e, por consequência, da sociedade. Todo e qualquer empreendimento deve ser realizado tendo em vista o homem, nunca priorizando a conquista que desu- manize a criatura.

 

Vianna de Carvalho

 

(Mensagem do livro Atualidade do Pensamento Espírita, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco).

 

 

 

 

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