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Falta sentir mais ardor pelo Espiritismo

Vianna de Carvalho ensina-nos que simples como um raio de luz e poderoso como chama crepitante, o Espiritismo é a resposta sábia dos Céus às interrogações da criatura aflita na Terra, conduzindo-o ao encontro de Deus. [2]

Allan Kardec, por ter observado, antes de todos os homens, que diante da noite escura das almas, em resposta aos seculares apelos dos corações sofridos, com Seu infinito amor, o Senhor da Vida enviava novamente, através do Espírito Verdade, o outro Consolador, permitindo às estrelas da Imortalidade viessem dos Céus em direção a Terra para iluminar as consciências, transformando nossas dores em hinos de Amor, pelo vigor do Espiritismo, previu que tal mensagem sublime demandaria um local estabelecido, além da intimidade imponderável de cada um, como sinônimo de seu foco irradiador, e concebeu o Centro Espírita. Deu-nos o tom harmônico dessa celestial sinfonia, com a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, e insculpiu, simbolicamente, em sua bandeira, o seu real significado, propósito e razão de ser, quando disse: Se um nome é necessário, inscreveremos em seu frontispício: Escola do Espiritismo Moral e Filosófico, e para ela convidaremos todos quantos têm necessidade de esperanças e de consolações. [1]

O Centro Espírita é, ou deveria ser, o remanso fraterno que abre suas portas materiais, para acolher os que nos resolvemos por atender o celestial convite do Amigo Incondicional de todas as horas: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (Mateus 11:28)

Indiscutível que o momento da Humanidade é grave, e que há evidente e célere busca pelo consolo, pela água lustral da Verdade que liberta.

O próprio contexto conclama-nos também, espíritas que somos, à reflexão séria e amadurecida, sobre a nossa real atuação – como quem carrega, ou deveria carregar, o archote da renovação íntima, a flâmula do Consolador, a mensagem do Cristo vivo -, diante de nós mesmos e de nossa consciência, de nossa família e da sociedade em que vivemos.

O que temos feito de especial?

Conforme as indagações que nos faz o Espírito Emmanuel, na Instituição Espírita, à qual estamos vinculados, o que temos sido:

Uma chave de solução nos obstáculos ou um elemento que os agrava?Um amigo que compreende e ajuda ou um crítico inveterado que tudo complica ou desaprova?Um apoio nas boas obras ou uma brecha para a influência do mal?

Uma bênção ou um problema? [5]

Com a sua lucidez fartamente conhecida e reconhecida, Raul Teixeira legou-nos página de grande utilidade para base de nossas meditações, que aqui transcrevemos:

É historicamente comprovado que todo movimento que se torna massivo costuma perder em qualidade. Isto aconteceu com o Budismo, com o Cristianismo e o Espiritismo não escaparia. Vejo, no entanto, em nosso Movimento Espírita, um fenômeno que para mim é muito preocupante. Trata-se do espírito de descomprometimento de muitos companheiros que tomam a frente das suas atividades. Caso esses líderes, coordenadores, dirigentes, presidentes, ou que outros nomes recebam, sentissem mais ardor pelo Espiritismo; se o conhecessem a ponto de compreenderem que somos nós que crescemos quando o elevamos, com certeza haveria esse crescimento que acompanhamos no Movimento, sem perder, contudo, a qualidade.

Seria preciso que os centros espíritas fossem dirigidos por pessoas ou por grupos de pessoas bastante lúcidos, conhecedores dos fundamentos do Espiritismo e com acendrado respeito pelo público que, ávido, chega às nossas instituições desejando aprender ou necessitando de algum tipo de ajuda, ou as duas coisas em conjunto.

Seria importantíssimo se os dirigentes compreendessem a afirmação do Espírito Bezerra de Menezes quando escreveu pelas mãos de Chico Xavier que o centro espírita é o educandário básico da mente popular, e que, a partir daí, levassem a sério a sua missão de educar a mente humana; de orientar ou reorientar o espírito humano, para que ele alcance seus nobres destinos ao largo da reencarnação. Enquanto isso for apenas um sonho, um devaneio nosso, não poderemos impedir que o Movimento Espírita sofra essa invasão de descomprometidos, de incautos e mesmo de alguns aventureiros, que se adonam das casas espíritas e de suas atividades e que impedem – estando a serviço do caos, dos inimigos do Cristo, consciente ou inconscientemente – o salutar desenvolvimento da sua mensagem pelo mundo.

Mesmo percebendo essa perda de qualidade, na medida em que o nosso Movimento cresce em quantidade de pessoas, aqueles que primam pela genuína divulgação da mensagem espírita devem continuar nesse afã, nessa empreitada, uma vez que cada um de nós dará conta à consciência do que tenha feito com os talentos da Doutrina, baseados que estamos na orientação que Jesus transmitiu aos Discípulos (Lc. 16,2) ao dizer que o administrador de um homem rico foi denunciado por defraudar-lhe os bens, e que foi chamado diante do dono dos bens e indagado: Que é isto que ouço contar a teu respeito? Dá conta da tua administração… Repito, então, que cada qual terá que prestar conta da administração que fez desse tesouro, desse bem formoso que é a Doutrina Espírita. [4]

Agora, armados com os instrumentos da Ciência Espírita, com a segurança da Filosofia Espírita e com a palavra espírita, trabalhemos por uma Religião de libertação humana que tenha: como Causa, Deus; como meio, Cristo e como caminho, a Caridade.

Espíritas, esta é a oportunidade de dizer a Jesus: Aqui estamos, Senhor: os trabalhadores da última hora, oferecendo nossos esforços para a construção do Teu reino de Paz, entre os homens da Terra! Tu que fostes do Mestre de Amor, ajuda-nos a viver o Espiritismo, ensinando à infância e à juventude, com a alma voltada no exemplo que faça delas, e de cada um, o caminhante da Humanidade e do futuro, o libertador do Mundo, quando não mais sombras, nem dores, nem saudades haverá entre os homens, senão Paz, muita Paz e Amor, estabelecendo o começo do Mundo de regeneração, em favor do progresso da Humanidade. [3]

 

[1] KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 4, p.8, jan. 1861. Trad. Júlio Abreu Filho.São Paulo: Edicel.

[2] FRANCO, Divaldo P. Aos espíritas. Organizado por Álvaro Chrispino. Diversos Espíritos. Salvador: Leal, 2005. Cap. 15.

[3] FRANCO, Divaldo P. Rumo às estrelas. Espíritos Diversos. Araras: IDE, 1992. Cap. 28.

[4] TEIXEIRA, J. Raul. Quando a vida responde. Diversos Espíritos. Niterói: Fráter,2010. Cap. IV, perg. 16.

[5] XAVIER, Francisco C. Educandário de luz. Espíritos Diversos. 2. ed.Araras:Ide, 1998. Cap. 18.

Fonte: Jornal Mundo Espírita (Julho 2013)

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