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Suely Caldas Schubert [1]

Vivemos a época dos modismos, que surgem, encantam multidões de seguidores e desaparecem com a mesma rapidez. Milhões se fazem adeptos de pessoas, músicas, moda, conduta, desde que a nova atitude ou o novo tipo caiam no gosto popular. Que a breve tempo são esquecidos para que se adote algo diferente.

Infelizmente também o meio espírita – parece-me – está se deixando levar por certos modismos, surgidos, talvez por ingenuidade e desconhecimento da Doutrina. É o que acontece, no momento, em relação ao fenômeno mediúnico. Referimo-nos ao fato de que quase todos os médiuns acham agora de se transformarem em pintores ou cirur­giões. Estamos na época da pintura mediú­nica e das cirurgias espirituais. Nada mais perigoso e preocupante.

Essa situação nos convida a uma reflexão mais atenta.

Fala-se tanto no crivo da razão. Mas não o tenho sentido em nosso meio. Ao contrá­rio: aceita-se tudo, admite-se tudo, justifica­-se tudo. Veja-se, por exemplo, a literatura mediúnica, cuja qualidade vem caindo gra­dativamente. Embora essas obras sejam di­vulgadas e aceitas, porque afinal de contas que mal há, se apresentam alguns pontos estranhos, antidoutrinários? Creio ser este o argumento para justificá-las. (Como nos es­quecemos de Kardec e seus critérios seve­ros, racionais e com bom senso!…)

Quanto à pintura mediúnica com duas honrosas exceções – está um verdadeiro festival de falta de gosto e técnica. Grandes mestres da pintura estão por aí, a toda hora, assinando telas irreconhecíveis. Pode-se afirmar que, no plano espiritual desaprenderam a arte a que se dedicavam na Terra. Não sou expert no assunto, mas tenho visto telas mediúnicas que estão muito aquém das célebres assinaturas que os­tentam.

Com todo o respeito e carinho aos mé­diuns que se dedicam a esse mister, todos com intenções louváveis, o que se nota é um entusiasmo excessivo a par da ausência de estudo da Doutrina e bom senso.

O mesmo se pode dizer em relação às cirurgias espirituais, porque apresentam re­sultados quase nunca comprovados, sendo apoiados numa fé cega e irracional (e la­mentamos isto), levando ao descrédito e à zombaria os médiuns e, por extensão, o Es­piritismo.

Será que não estamos fazendo o cami­nho inverso ao que Allan Kardec recomenda em “O Livro dos Médiuns”? Ele parte das manifestações físicas para as manifesta­ções inteligentes, conclamando os médiuns a um trabalho de profundidade que fale ao raciocínio e que, ao mesmo tempo, esclare­ça e console.

Não estaremos optando pelo fenômeno?

Preocupa-me ver a mediunidade levada aos palcos. O mestre lionês adverte quanto a isso, pois bem sabia dos perigos e incon­venientes.

Assim, estamos assistindo a trajetória de vários médiuns, imaturos, inexperientes, com boas intenções, é certo, sendo lança­dos quais artistas famosos, em verdadeiros “shows” de fenômenos mediúnicos. Alguns têm pouco tempo de exercício da mediuni­dade. Não trazem ainda a faculdade matu­rada, estão sem vivência alguma.

Considero tudo isso uma falta de carida­de para com esses médiuns, porque a maio­ria não tem estrutura psicológica e espiritual para suportar o peso e o preço da fama, da popularidade, como também para aguentar as críticas contrárias, o assédio e as pres­sões negativas. Vejo-os e me comovo com a inexperiência que deixam passar no próprio trabalho que realizam e no próprio modo de ser.

E me pergunto: Por que tanta pressa? Por que buscar a popularidade, se esta é um pesado fardo? Ah, não sabem ainda dos sofrimentos, perseguições e incompreen­sões que a acompanham. Só veem o lado dourado, dos elogios, dos aplausos e sorri­sos – que têm, porém, a brevidade de um instante fugaz. Não sabem ainda da inveja, do ciúme, do despeito e do solitário caminho que começam a trilhar.

Vejo-os e me entristeço por eles. Gosta­ria de convidá-los a uma reflexão maior. Que dessem um tempo para que as suas faculdades amadureçam, no exercício constante, disciplinado, anônimo e no estu­do permanente. Que dessem um tempo para o seu pr6prio crescimento enquanto pessoa, ser humano. Este o real desenvolvimento da mediunidade.

Será preciso citar o exemplo dos mé­diuns que têm uma obra que lhes identifica a mediunidade-missão?

Além do que, deve-se considerar que, em termos de mediunidade. não se começa do fim. Por mais vertiginosas que sejam as novidades e mudanças neste final de século isto se dá em termos materiais, não em conquistas espirituais. Estas têm o seu campo de ação, a rota definida.

Assim, que os médiuns em fase inicial de tarefas não se afobem. Tudo virá a seu tem­po. Que não nos julguemos infalíveis, admi­tamos a possibilidade de nos equivocarmos, de filtrarmos mal a mensagem, vez por ou­tra, de errarmos, afinal de contas.

Que estudemos “O Livro dos Médiuns”, especialmente o incrível capítulo 24, onde o Codificador apresenta, nada mais, nada me­nos, que 54 itens auxiliares para a identifi­cação dos Espíritos. E aí, vamos constatar que estes que julgamos guias superiores não são tão superiores assim e nem tão “guias”… Que observemos a recomendação a respeito da formação dos médiuns, onde se aprende que estes não devem querer ou exercitar todos os tipos de faculdades que apresentem, e sim, a sua aptidão dominante, que é frequentemente associada a mais duas ou três aptidões secundárias. Querer exercitar todas as que eclodem e fazer de­las ponte para projeção pessoal é candida­tar-se ao desgaste, quando não ao descré­dito e/ou a complexos processos de fasci­nação.

O Movimento Espírita precisa de contri­buições lúcidas, coerentes, sérias. Diante de fatos mediúnicos inusitados, que possam ser comprovações da imortalidade da alma e do intercâmbio entre os dois planos da vi­da, que se busque a pesquisa, a comprova­ção, através de pessoas entendidas fora do âmbito espírita também, especialmente téc­nicos na área em exame. A pesquisa séria, de cunho científico e que apresente decor­rências morais de alto nível é o que estamos precisando, no momento, em face de tantas incongruências.

A Causa está acima das pessoas falíveis e frágeis que somos.

Eis por que Erasto adverte gravemente:

“Não creias que a faculdade mediúnica seja dada somente para correção de uma ou duas pessoas, não. O objetivo é mais alto: trata-se da Humanidade. Um médium é um instrumento pouquíssimo importante como indivíduo”.

(“O Livro dos Médiuns” – grifos meus.)

[1] Suely Caldas Schubert nascida no ano de 1939, é natural de Carango La e residente em Juiz de Fora, Minas Gerais. É autora, médium e consagrada oradora. Dedica-se desde a sua juventude às atividades espíritas, especialmente no âmbito da mediunidade e na divulgação do espiritismo. Como escritora, teve seus livros lançados pela FEB: “Obsessão/desobsessão: profilaxia e terapêutica espírita” 1981, “Testemunhos de Chico Xavier”, 1986, “Entrevistando Allan Kardec”, 2004 e Dimensões Espirituais do Centro Espírita, 2006. Uma das fundadoras da Sociedade Espírita Joana de Ângelis. Desde 1971, atua na Aliança Municipal Espírita onde exerceu diversos cargos, atualmente é diretora do Departamento em assuntos sobre Mediunidade.

Fonte: http://www.mundoespirita.com.br

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