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O homem civil e o homem espiritual e seu enraizamento nos centros espíritas

Humberto Mariotti [1]

O homem encarnado, cujo desenvolvimento abrange dois aspectos, o civil e o espiritual, tem uma terceira fase ou etapa no que respeita a sua vida profunda e transcendente e que encontra seu verdadeiro desenvolvimento espiritual no trato com o mundo invisível. Será preciso admitir que o ser humano não é só uma entidade civil ou social: nele existe uma natureza que não participa do mundo físico. Tem-se olvidado que no homem existe um mundo transcendental que não fica preso à matéria e que o relaciona com a realidade suprassensível do Espírito. Este mundo transcendente é o que deverá manifestar-se nele, se deseja encontrar o verdadeiro sentido de sua existência. Para que se produza tão importante fato será preciso que o homem entre em contato com o mundo dos Espíritos, desde que seu ser e Natureza pertencem ao mesmo: terá que conhecer a verdade livre, pura e real de além-túmulo por meio do realismo mediúnico, que a doutrina espírita lhe apresenta.

 

Agora bem, esse contato com o mundo espiritual poderá lográ-lo por intermédio dos centros espíritas; é neles onde o homem descobrirá sua verdadeira natureza e compreenderá a razão de ser de sua existência, as vivas realidades do Evangelho, que significam a evolução palingenésica e a importância histórica do Espiritismo. Seu enraizamento nos Centros espíritas permitirá que prevaleça nele o “homem espiritual” sobre o homem civil ou social. Por isso a função dos centros espíritas consiste em preparar o ser humano para “sentir-se e reconhecer-se” como uma entidade espiritual, e aceitar que a verdadeira natureza de toda ética deverá fundamentar-se no Evangelho.

 

É deste modo que o homem se irá identificando com o sentido do eterno; saberá que os mortos vivem e que se comunicam com ele para lhe esclarecerem com respeito a sua existência, assim como para alentá-lo a persistir no bem e na bondade, não obstante as duras contradições encontradas diariamente no mundo dos homens. Os centros espíritas serão as bases para a adoção dessa nova atitude diante da vida, da sociedade, da história e do universo, pois nas sessões mediúnicas e doutrinárias o cidadão encontrará o exato saber do que representa seu ser e existir no campo espiritual e cristão. Compreenderá por que se ora e se ama, e o que significa para seu mundo interior o cumprimento da lei de adoração. Daí constituírem-se os centros espíritas partículas que tendem a engrandecer-se, a ampliar-se para ir conquistando paulatinamente áreas e mais áreas do “mundo material”, até que um dia hajam iluminado com suas luzes o planeta inteiro. Nesse feliz momento, a Terra será um amplo e venturoso centro espírita que elevará as vistas para suas irmãs do espaço, desde quando cada mundo se tornará luminoso elo de uma cadeia infinita que só poderá compreender-se em Deus e através da divina harmonia.

 

Os centros espíritas transformarão definitivamente o “homem civil” em “homem espiritual”, influindo assim sobre a conformação de novas estruturas jurídicas até modificar as bases materialistas do Estado. Eles modificarão a sociedade civil e materialista absorvendo-a paulatinamente, até que as leis se tornem em complementos espirituais emanados da evolução moral de indivíduos e gerações, as quais possibilitarão o desenvolvimento de verdades psíquicas e metapsíquicas como as físicas e metafísicas sob o amparo de um Estado moderno e evoluído.

Dizia Hartmann que “a religião nasce do sentimento». Com efeito, no momento em que o Espírito se conscientiza da própria realidade e existência, é quando desperta nele esse sentimento do metafisico e religioso. Começa assim a pensar sobre sua realidade circundante, porém por sua vez e com maior intensidade, sobre o que poderá existir no invisível. Deste modo, todas as coisas se transformarão à sua volta, até chegar ao grau de exigir uma ampla explicação sobre o porquê de sua existência. Nestas condições o homem vem aceitar ou rejeitar Deus como uma realidade viva do universo. Surge, então, a chamada “força do ideal”.

 

 

Texto extraído do livro Os Ideais Espíritas na Sociedade Moderna.

 

 

[1] Humberto Mariotti nascido em Záratec, Argentina, em 11/06/1905.

 

Foi um poeta, escritor, jornalista, pedagogo, conferencista e intelectual espírita portenho.

 

Foi presidente da Confederação Espírita Argentina de 1935/1937 e 1963/1967, da Sociedad Victor Hugo por várias gestões e diretor da revista de cultura espírita "La Idea".

 

Humberto Mariotti, em companhia de Porteiro, participou do V Congresso Espírita Internacional, realizado em Barcelona, Espanha, em outubro de 1934.

 

Foi também vice-presidente da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA) em duas gestões.

Foi atuante divulgador do Espiritismo nas imprensas espíritas brasileira, portuguesas e argentina.

 

Escreveu vários livros e inúmeros artigos para a revista "Educação Espírita", propondo uma nova filosofia da educação, não só para o "ser humano", mas principalmente para o "ser espiritual em evolução"

 

Em 10/07/1982, em Buenos Aires, Argentina, desencarna Humberto Mariotti, escritor, poeta, jornalista, expositor e filósofo espírita.

 

Obras: Dialéctica y Metapsíquica; Parapsicologia y Materialismo Histórico; El Alma de los Animales a Luz de la Filosofia Espirita; En Torno al Pensamiento Filosofico de J. Herculano Pires;

Victor Hugo, el Poeta del Más Allá; Los Ideais Espiritas en la Sociedad Moderna; Vida y Pensamiento de Manuel Porteiro.

 

 

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