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Doutrina Espírita: uma obra de amor, sabedoria, mediunidade e livros

18 de abril de 2017 - 160 anos da publicação da 1ª. edição de O Livro dos Espíritos

Wilson A. Ortiz

Uma obra de amor e sabedoria

Há dois mil anos Jesus, o Governador da Terra, em gesto de zeloso amor, veio ter conosco para nos oferecer sabedoria, por meio de exemplos vivos, mostrando que é possível viver em harmonia com as propostas do Pai Celestial, sem que para isso seja necessário possuir bens materiais e escravizar pessoas. Os exemplos valeram naquela época, e valem igualmente hoje: de onde tiramos essa mania que nos compele a querer possuir coisas e gentes?

Muitos séculos - e algumas religiões - depois, estávamos decepcionados, afastados de qualquer sentimento de religiosidade, iludidos com o poder da mente humana, das ciências, das realizações materiais, duvidando da existência de Deus, caminhando para um materialismo daninho e danoso para o nosso progresso espiritual.

Jesus, pastor atento, zelador dos nossos destinos, desejando atrair-nos de volta, para longe desses descaminhos, preparou, com amor e sabedoria, a codificação da Doutrina Espírita [1]. Sendo a materialização do Consolador Prometido [2], o Espiritismo é, portanto, um retorno às origens do Cristianismo, uma releitura essencial dos Evangelhos. Os planos superiores da vida, sob a inspiração do Divino Mestre, escalaram espíritos enobrecidos para a tarefa de trazer à Terra a Doutrina Espírita. Esses, empregando também amor e sabedoria, codificaram-na e consolidaram-na. O expoente mais visível dessa empreitada é Allan Kardec, que encarnou em 3 de outubro de 1804 em Lyon, na França, como Hippolyte Léon Denizard Rivail, preparando-se de modo impecável, ao longo de cinco décadas, numa vida dedicada à educação. Antes, à educação de crianças e jovens; mais tarde, à recondução das almas, de volta para a trilha delineada por Jesus.

Na mesma época de Kardec, muitos espíritos foram igualmente escalados para participar dessa nobre empreitada de reconduzir o Cristianismo à sua essência original - alguns um pouco antes, outros um pouco depois de seu nascimento. Muitos tiveram o sucesso esperado, enquanto alguns (nada mais humano!) falharam clamorosamente [3].

 

Mediunidade

A mediunidade é uma das características que distinguem o Espiritismo [4] das demais doutrinas religiosas. Mas a Doutrina Espírita não inventou a mediunidade, que está nos Evangelhos, como no exemplo notável do encontro de Jesus com Moisés e Elias, no Monte Tabor, testemunhado por alguns discípulos. A Doutrina Espírita, entretanto, valeu-se da mediunidade de modo notável, para a transferência das valiosas informações que o plano espiritual desejava fazer chegar ao plano material. Com a Doutrina Espírita, há um resgate da mediunidade, que até então era considerada uma manifestação demoníaca, muito especialmente durante a Inquisição. Essa teria sido a principal razão para a ocorrência do chamado Ato de Fé de Barcelona, quando representantes da Igreja Católica queimaram exemplares do então recém-publicado Livro dos Espíritos.

Jesus escolheu a via mediúnica para executar a transferência da Doutrina Espírita ao plano dos encarnados. Primeiro foram fenômenos envolvendo efeitos físicos, como as batidas na casa das irmãs Fox, em Hydesville (EUA), assim como as mesas girantes, que atraíram a atenção de Hippolyte Léon. Logo depois, além do próprio Kardec (por inspiração), participaram dessa transferência de informações, pela via mediúnica, as meninas Julie e Caroline Baudin, Ruth Japhet e Aline Carlotti, além de Ermance Dufaux, que colaborou para a 2ª edição do Livro dos Espíritos (que é a que conhecemos melhor). Todas elas por mediunidade explícita. Para preparar a segunda edição do Livro dos Espíritos, Kardec recolheu material recebido por muitos médiuns, de diferentes cidades da Europa e da América. É interessante mencionar que o livro mediúnico de Ermance Dufaux, em que Joana D’Arc conta a sua própria história [5], também foi queimado no Ato de Barcelona.

O Espírito Verdade coordenou, desde os planos superiores da vida, todo o processo de transferência da Doutrina Espírita, que teve em Allan Kardec um trabalhador incansável e fiel aos propósitos originais. Ainda assim, a obra não se chama “Doutrina do Espírito Verdade”, nem “Doutrina de Allan Kardec”, mas recebeu o nome que melhor a traduz: trata-se da “doutrina de todos os espíritos”, ditada pelos espíritos superiores para balizar, guiar, orientar “todos os espíritos”, encarnados e desencarnados.

 

Livros

O pentateuco original, preparado por Kardec, bem como as demais obras de continuação imediata da Doutrina Espírita, formam uma coleção notável que demonstra a escolha prioritária de transferir a informação essencial através dos livros. Nessa obra, desde a sua origem, tudo está expresso (e impresso) em livros: O Livro dos Espíritos (1857); O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864); O Céu e o Inferno (1865); A Gênese (1868), seguidos de trabalhos de Camille Flammarion, Léon Denis e Gabriel Delanne, fiéis continuadores da obra de Kardec. No Brasil, alguns dos expoentes dessa tarefa de concretizar livros pela via mediúnica são os notáveis Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo Pereira Franco e Chico Xavier [6]. Há livros em todos os estilos, para todos os gostos: romances, poemas, contos, crônicas, mensagens curtas, estudos elaborados, linguagem simples, textos rebuscados. Só não lê a Obra Espírita quem, por uma ou outra razão, recusa-se a adquirir o hábito ler.

Não é por acaso que as Feiras do Livro Espírita são tão importantes para o Movimento Espírita. A difusão das Ideias Espíritas se dá, essencialmente, nas reuniões de trabalho realizadas nas Casas Espíritas. Sua disseminação ocorre pela transferência de informações, de uns para outros, pelos expositores e também pelas discussões nos grupos de estudo da Doutrina Espírita. Sua essência, porém, está firmemente alicerçada nas Obras Básicas e nas obras de continuação. É indispensável que procuremos aprender bebendo na fonte límpida, que traz toda a informação imprescindível. Sejamos cuidadosos em nossos estudos, escolhendo o material certo: as Obras Básicas da Doutrina Espírita.

É sempre útil prestar atenção no que dizem e fazem aqueles que sabem mais do que nós. Nesse aspecto, façamos também o que Emmanuel sugeriu ao Chico Xavier: num dos primeiros contatos entre ambos, Emmanuel disse ao Chico que pretendia que trabalhassem juntos por longo tempo, e que ele deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec. E disse mais: se um dia ele, Emmanuel, algo aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que o Chico deveria esquecer Emmanuel e permanecer com Jesus e KardecSejamos criteriosos então: todo Espírita é livre para ler tudo o que quiser, mas deve se reservar, sempre, o direito de rejeitar aquilo que lhe pareça estranho e não combine com os ensinamentos de Jesus, magistralmente revisitados por Kardec.

A Doutrina Espírita é, de fato, uma obra de amor, sabedoria, mediunidade e livros, cujo bloco inaugural concretizou-se com a publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857. As nossas homenagens respeitosas aos autores dessa obra monumental não devem limitar-se a uma mera celebração. É do nosso mais genuíno interesse conhecê-la, compreendê-la, praticá-la.

Gratos a Kardec, que representa a face visível do concerto celeste que culminou com a organização da Doutrina Espírita, empenhamo-nos, nas Casas Espíritas, em divulgá-la aos companheiros de jornada que buscam conhecer a Verdade para tornarem-se verdadeiramente livres.

Referências bibliográficas

  • [1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 5.

  • [2] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, itens 3 e 4.

  • [3] Por exemplo, Emmanuel informa, no livro “A Caminho da Luz”, que Napoleão Bonaparte foi um dos que não souberam compreender as finalidades da sua grandiosa missão.

  • [4] Dentre outras, destacam-se: Comunicabilidade dos Espíritos (mediunidade), Multiplicidade das Encarnações (reencarnação), Pluralidade dos Mundos Habitados (as muitas moradas da casa do Pai).

  • [5] Publicado em 1855, dois anos antes do Livro dos Espíritos.

  • [6] Uma vida “confiscada” a favor dos livros; 412 catalogados.

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