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Fundamentos para a evangelização: conhecimento, amor e trabalho

Sandra Maria Borba Pereira

O Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, na obra Caminho, Verdade e Vida, capítulo 104, afirma: O Mestre veio instalar o combate de redenção sobre a Terra. Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente de batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano.

 

Podemos, a partir do pensamento acima asseverar, por nossa vez, que com Jesus nasce a ação evangelizadora da Humanidade terrena, visando impulsionar o processo evolutivo de seus membros.

Pela palavra mas, sobretudo pelo exemplo, Jesus descortina ao homem aturdido do Seu tempo e dos dias de hoje, a natureza espiritual que o caracteriza e a consequente exigência de seu progresso intelecto-moral, condição para que atinja a felicidade a que está destinado como filho de Deus.

Essa caminhada em direção ao progresso do homem/Espírito imortal, tão necessária quanto longa, ocorre na vivência encarnatória/reencarnatória, propiciando-lhe experiências e conhecimentos, que constituem a base para suas escolhas e decisões.

Cada reencarnação deve ser um passo adiante na escala evolutiva (pois ingressamos na vida corpórea para nos melhorar!), a partir do próprio esforço e de acordo com as necessidades e possibilidades que vão sendo definidas pelas experiências vivenciadas em múltiplos contextos.

Destaca-se, nessa trajetória, a importância da infância para o Espírito, conforme consta de O Livro dos Espíritos, questão 383:

 

Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância?

 

Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível durante esse tempo às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação.

 

A infância, desse modo, está nas leis de Deus e é o mecanismo através do qual se poderá proporcionar mais seguras orientações ao Espírito reencarnado, inibindo as manifestações de seus maus instintos trazidos de experiências pretéritas bem como trabalhando pela construção de hábitos salutares e renovados, em harmonia com a Lei de Justiça, Amor e Caridade.

O estímulo ao autoconhecimento e o conhecimento desde cedo da Doutrina Espírita, como ferramenta de compreensão da sua e da realidade da vida, aliados às oportunidades de participação em espaços de convivência propiciadores de prática de valores, constituem cenários propícios ao progresso individual com positivos reflexos na família e na sociedade.

 

Concretiza-se, assim, a obra da educação moral, especialmente no seio da família e, potencialmente, nas instituições educativas conscientes de sua capacidade de influenciar positivamente na formação das novas gerações.

 

Dentre essas instituições a Casa Espírita se apresenta como parceira da família que adota a orientação de vida consoante os princípios espiritistas, na obra educativa de todos, especialmente de crianças e jovens que acolhe na busca de atender ao mais elevado objetivo do Espiritismo: a formação de pessoas de bem, integradas nos princípios da Vida, harmonizadas com a Lei de Deus cujo cumprimento conduz ao progresso e à felicidade.

 

Se os pais, a quem cabe a grave tarefa de educação dos filhos, devem sempre se preparar para tal ação, igualmente cabe aos colaboradores da Casa Espírita – os evangelizadores – a responsabilidade de se habilitarem para essa atividade, buscando para isso os processos de formação permanente para qualificarem sua prática para o alcance dos elevados objetivos da Evangelização Espírita Infantojuvenil.

A boa vontade e o desejo de organizar as situações de aprendizagens que serão vivenciadas, semanalmente, na Casa Espírita, representam o primeiro passo que deve ser seguido de uma atitude sempre atenta para que a semeadura do Evangelho à luz dos princípios espíritas, no campo fértil de corações e mentes infantis e juvenis, seja capaz de garantir a colheita desejada: pessoas de Bem, esclarecidas e comprometidas com seu próprio progresso.

 

Sendo assim e considerando o ser humano numa perspectiva integral, a Evangelização Espírita, naturalmente, se dirigirá para além da cognição humana, buscando atuar nas outras dimensões que o constituem. Daí, evocando o célebre mestre suíço Pestalozzi, é necessário compreender que a ação evangelizadora atinge o ser completo: cabeça, coração e mãos.

 

O conhecimento proporcionará ao Espírito encarnado a compreensão da realidade onde se movimenta e age, facultando-lhe avanços significativos nos mais variados aspectos da atividade humana. No caso específico, na Evangelização, o conhecimento doutrinário lhe proporcionará  o estudo e a vivência da Doutrina Espírita, em seu tríplice aspecto, e dos ensinos morais do Evangelho de Jesus, visando ao aprimoramento moral e à formação de pessoas de bem.[1]

Esse conhecimento, pois, constitui um conteúdo para além de ser memorizado, isto é, o que se busca é a reflexão, um pensamento em profundidade, crítico, articulado com as vivências pessoais e sociais em seus múltiplos contextos culturais. O que se tem em mira é a construção de uma leitura espírita da vida e da fé raciocinada preconizada pelo Codificador, capazes de aproximar a criatura do Criador, por uma nova visão de Deus, Sua Justiça e Misericórdia.

O conteúdo da mensagem espírita é esclarecedor, libertador de consciências, estímulo à internalização da visão imortalista da vida, proposta de renovação íntima para adoção de atitudes caracterizadas pela vivência do Bem.

Por ser uma proposta de educação integral, a Evangelização preocupa-se com o aprimoramento moral (coração) da criatura e suas possibilidades de intervenção no meio (transformação social) pelas mudanças atitudinais. Conforme Léon Denis: Não basta desenvolver as inteligências, é necessário formar caracteres, fortalecer as almas e as consciências.[2]

E ainda: Para uma sociedade nova são necessários homens novos. Por isso, a educação desde a infância é de importância capital.[3]

Esse  homem novo, claro, não será apenas um homem com novas ideias, mas um ser humano renovado, com sentimentos nobres como respeito, fraternidade, compaixão. Um ser humano de caráter transformado, esforçando-se pela superação do egoísmo e todos os vícios, imperfeições e defecções morais, banhado pela nova compreensão de sua natureza e destinação como filho de Deus.

O conhecimento doutrinário esclarece sobre a necessidade do aprimoramento moral e juntos conduzem o ser humano a uma nova forma de viver, aos atos de autocuidado, de cuidado com a Natureza e com os outros. A isso se denomina transformação social verdadeira, aquela que se inicia no próprio indivíduo, expressa pelo esforço de mudança interior que se refletirá através de suas ações na vida em sociedade.

Cabeça, coração e mãos, ou seja, conhecimento doutrinário, aprimoramento moral e transformação social, os eixos estruturantes da ação evangelizadora reclamando de todos os evangelizadores a formação permanente, a avaliação contínua e o esforço perene na busca de uma Evangelização de qualidade, que faça a diferença na construção de um mundo regenerado a trilhar um caminho iluminado. Em síntese, eis a ação evangelizadora espírita:

 

Bibliografia:

[1] FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Orientação para a Ação Evangelizadora da Infância: subsídios e diretrizes. Brasília, 2016. cap. 2, item 2.1, p. 38.

[2] Op. cit., cap. 2, item 2.2, p. 44.

[3] Op. cit. p. 45.

Fonte: http://www.mundoespirita.com.br (Fevereiro 2017)

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