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O Partido Espírita

 

 

(Revista Espírita, julho de 1868)

 

 

 

 

 

Os espíritas se consideravam como uma escola filosófica, mas nunca lhes tinha vindo à cabeça se julgar um partido. Ora, eis que um belo dia o Moniteur lhes deu esta notícia, que os surpreendeu um pouco. E quem foi que lhes deu esta qualificação? Foi um desses maus e inconsequentes jornalistas que lançam epítetos ao acaso, sem lhes compreender o alcance? Não; foi um relatório oficial feito para o primeiro corpo do Estado, para o Senado. Assim, não é provável que, num documento dessa natureza, essa palavra tenha sido usada estouvadamente. Sem dúvida não foi a benevolência que a ditou, mas ela foi dita e faz sucesso, porque os jornais não a deixaram cair no esquecimento. Alguns, crendo aí encontrar um agravo a mais contra o Espiritismo, nada tiveram de mais urgente do que estampar nas suas colunas o título de: O Partido Espírita

Assim, essa pobre escolinha, tão ridicularizada, tão atacada, que caridosamente pretendiam mandar em massa para o hospício; sobre a qual diziam que bastava soprar para que ela desaparecesse; que vinte vezes declararam morta e para sempre sepultada; à qual não há mais fino escritor hostil que não se tenha gabado de lhe haver dado o golpe de misericórdia, mas concordando, com estupefação, que ela invadia o mundo e todas as classes da Sociedade; da qual quiseram, a todo custo, fazer uma religião, gratificando-a com templos e sacerdotes grandes e pequenos que ela jamais viu, ei-la de repente transformada em partido. Por esta qualificação, o Sr. Genteur, relator do Senado, não lhe deu o seu verdadeiro caráter, mas a realçou; deu-lhe uma classe, um lugar, pondo-a em relevo, porque a ideia de partido implica a de uma certo poder, de uma opinião bastante importante, bastante ativa e bastante expandida para representar um papel, e com a qual é preciso contar. 

Por sua natureza e por seus princípios, o Espiritismo é essencialmente pacífico; é uma ideia que se infiltra sem ruído, e se encontra numerosos aderentes, é que agrada; ela jamais fez propaganda ou quaisquer exibições; forte pelas leis naturais, nas quais se apoia, vendo-se crescer sem esforços nem abalos, não vai de encontro a ninguém; não violenta nenhuma consciência; diz o que é e espera que a ele venham. Todo o alarido feito ao seu redor é obra de seus adversários; eles o atacaram, ele teve que se defender, mas sempre o fez com calma, moderação e só pelo raciocínio; jamais se afastou da dignidade que é própria de toda causa que tem consciência de sua força moral; jamais usou de represálias, pagando injúria por injúria, maus procedimentos por maus procedimentos. Convenhamos que este não é o caráter ordinário dos partidos, agitados por natureza, fomentando a agitação, e aos quais tudo se justifica para atingir os seus fins. Mas, já que lhe dão este nome, ele o aceita, certo de que não o desonrará por qualquer excesso, porque repudiaria quem quer que dele se prevalecesse para suscitar a menor perturbação. 

O Espiritismo seguia a sua rota sem provocar qualquer manifestação pública, mas aproveitando a publicidade que lhe faziam os seus adversários. Quanto mais a sua crítica era escarnecedora, acerba e virulenta, mais ela excitava a curiosidade dos que não o conheciam e que, para saber como comportar-se diante dessa assim chamada nova excentricidade, iam simplesmente informar-se na fonte, isto é, nas obras especiais; estudavam-no e verificavam que era completamente diverso do que tinham ouvido dizer. É um fato notório que as declamações furibundas, os anátemas e as perseguições ajudaram poderosamente a sua propagação, porque, em vez de desviá-lo, provocaram o seu exame, mesmo que fosse apenas pela atração do fruto proibido. 

As massas têm a sua lógica; elas dizem que se uma coisa nada fosse, dela não falariam, e medem a sua importância precisamente pela violência dos ataques de que ela é objeto e do pavor que causa aos seus antagonistas. 

Instruídos pela experiência, certos órgãos de publicidade se abstinham de falar dele, bem ou mal, evitando mesmo pronunciar-lhe o nome, para não lhe dar repercussão, limitando-se a endereçar-lhe, de tempos em tempos, alguns ditos ofensivos ocasionais e como à sorrelfa, quando uma ocasião o punha inevitavelmente em evidência. Alguns também guardaram silêncio, porque a ideia tinha penetrado em suas fileiras, e com ela, senão talvez a convicção, pelo menos hesitação. 

A imprensa em geral, portanto, se calava sobre o Espiritismo, quando uma circunstância que não podia ser efeito do acaso a colocou na contingência de falar dele. E quem provocou o incidente? Sempre os adversários da ideia, que ainda dessa vez se equivocaram, produzindo um efeito totalmente contrário ao que esperavam. Para dar mais repercussão ao seu ataque, eles conduzem-no desajeitadamente, não no terreno de uma folha sem caráter oficial e cujo número de leitores é diminuto, mas por via de petições à própria tribuna do Senado, onde ela é objeto de uma discussão e de onde saiu a expressão partido espírita. Ora, graças aos jornais de todas as cores, obrigados a noticiar o debate, a existência desse partido foi revelada instantaneamente a toda a Europa e fora dela. 

É verdade que um membro da ilustre assembleia disse que não havia senão bobos que fossem espíritas, ao que o presidente respondeu que os bobos também podiam formar partido. Ninguém ignora que hoje existem milhões de espíritas e que altas notabilidades simpatizam com suas crenças; então, a gente pode admirar-se que um epíteto tão pouco cortês e tão generalizado tenha saído daquele ambiente, dirigido a uma parte considerável da população, sem que o autor tenha imaginado a sua repercussão? 

Aliás, os próprios jornais se encarregaram de desmentir tal qualificação, certamente não por benevolência, mas, que importa! O jornal la Liberté, entre outros, que aparentemente não quer que tenhamos a liberdade de sermos espíritas, como temos a liberdade de ser judeu, protestante, sansimonista ou livre-pensador, publicou, em seu número de 13 de junho, um artigo sob a assinatura de Liévin, do qual eis um resumo: 

“O Sr. Genteur, comissário do governo, revelou ao Senado a existência de um partido que não conhecíamos, e que, ao que parece, contribui como os outros, no limite de suas forças, para abalar as instituições do império. Já a sua influência se havia feito sentir o ano passado, e o partido espírita ─ foi o nome que lhe deu o Sr. Genteur ─ tinha obtido do Senado, sem dúvida graças à sutileza dos meios de que dispõe, a remessa ao governo da famosa petição de Saint-Etienne, na qual eram denunciadas, como se lembram, não as tendências materialistas da Escola de Medicina, mas as tendências filosóficas da biblioteca da comuna. Até aqui nós tínhamos atribuído ao partido da intolerância a honra desse sucesso, e o considerávamos como uma consolação para ele, por seu último revés, mas parece que nos tínhamos enganado e que a petição de Saint-Etienne não passava de uma manobra desse partido espírita, cujo poder oculto parece querer exercer-se mais particularmente em detrimento das bibliotecas. 

“Assim, segunda-feira, o Senado recebia uma nova petição, na qual o partido espírita, mais uma vez mostrando a sua cara, denunciava as tendências da biblioteca de Oullins (Ródano). Mas desta vez a venerável assembleia, posta em guarda pelas revelações do Sr. Genteur, frustrou, por uma ordem do dia unânime, os cálculos dos espíritas. Apenas o Sr. Nisard se deixou mais ou menos apanhar por essa astúcia de guerra, e de boa-fé estendeu a mão a esses pérfidos inimigos. Ele deu-lhes o apoio de um parecer em que, por sua vez, assinalava os perigos dos maus livros. Felizmente o equívoco do honrado senador não foi partilhado, e os espíritas, desmascarados e confusos, foram reconduzidos como mereciam.” 

Um outro jornal, a Revue Politique Hebdomadaire, de 13 de junho, assim começa um artigo sobre o mesmo assunto: 

“Ainda não conhecíamos todos os nossos perigos. Não eram, pois, suficientes o partido legitimista, o partido orleanista, o partido republicano, o partido socialista, o partido comunista e o partido vermelho, sem contar o partido liberal, que os resume a todos, se se acredita no Constitucional? Era mesmo sob o segundo império, cuja pretensão é dissolver todos os partidos, que um novo partido devia nascer, crescer e ameaçar a sociedade francesa, o partido espírita? Sim, o partido espírita! Foi o Sr. Genteur, conselheiro de Estado, que o descobriu e o denunciou em pleno Senado!” 

Dificilmente chegaremos a compreender que um partido que só se componha de bobos possa fazer o Estado correr sérios perigos. Temê-lo seria permitir que acreditem que se tem medo dos bobos. Soltando um grito de alarme em face do mundo, prova-se que o partido espírita é alguma coisa. Não tendo podido abafá-lo sob o ridículo, tentam apresentá-lo como um perigo para a tranquilidade pública. Ora, qual será o inevitável resultado desta nova tática? Um exame muito mais sério e mais aprofundado, que fará com que seja ainda mais realçado o seu perigo; quererão conhecer as doutrinas deste partido, seus princípios, sua palavra de ordem, suas filiações. Se o ridículo lançado sobre o Espiritismo, como crença, despertou a curiosidade, será muito diferente quando ele for apresentado como um partido temível; todos ficarão interessados em saber o que ele quer, para onde ele conduz: é tudo o que ele pede; agindo em plena luz, não tendo qualquer instrução secreta, fora do que é publicado para uso de todo mundo, ele não teme nenhuma investigação, bem certo, ao contrário, de ganhar por ser conhecido, e que quem quer que o perscrute com imparcialidade, verá em seu código moral uma poderosa garantia de ordem e de segurança. Um partido, porquanto existe um partido, que inscreve em sua bandeira: Fora da caridade não há salvação, indica bem claramente suas tendências, para que ninguém tenha razão para temê-lo. Ademais, a autoridade, cuja vigilância é conhecida, não pode ignorar os princípios de uma doutrina que não se esconde. A ela não falta gente para lhe dar conta do que se diz e do que se faz nas reuniões espíritas, e ela bem saberia chamar à ordem os que dela se afastassem. 

É admissível que homens que fazem profissão de liberalismo, que reclamam em coro e aos gritos a liberdade, que a querem absoluta para as suas ideias, seus escritos, suas reuniões, que estigmatizam todos os atos de intolerância, entendam proscrevê-la para o Espiritismo. 

Mas vede a que inconsequências conduz a cegueira! O debate que ocorreu no Senado foi provocado por duas petições: uma, do ano passado, contra a biblioteca de Saint-Etienne; outra deste ano, contra a biblioteca de Oullins, assinadas por alguns habitantes daquelas cidades, e que reclamavam contra a introdução de certas obras, naquelas bibliotecas, entre as quais figuravam as obras espíritas. 

Ora! O autor do artigo do jornal la Liberté, que sem dúvida examinou a questão um tanto levianamente, imagina que a reclamação emana do partido espírita, e conclui que este levou uma cacetada pela ordem do dia pronunciada contra a petição de Oullins. Eis, pois, esse partido tão perigoso facilmente abatido, e que requer que suas próprias obras sejam excluídas! Então seria verdadeiramente o partido dos bobos. Ademais, esse estranho equívoco nada tem de surpreendente, pois o autor declara, de início, que não conhecia esse partido, o que não o impediu de declará-lo capaz de abalar as instituições do império. 

Longe de se inquietarem com esses incidentes, os espíritas devem rejubilar-se, pois essa manifestação hostil não podia produzir-se em circunstâncias mais favoráveis, e a Doutrina assim receberá, na certa, um novo e salutar impulso, como tem acontecido em todos os levantes de que ela tem sido objeto. Quanto mais repercussão têm esses ataques, mais proveitosos eles são. Dia virá em que se transformarão em aprovações abertas. 

O jornal le Siècle, de 18 de junho, também publicou o seu artigo sobre o partido espírita. Todos aí notarão um espírito de moderação, que contrasta com os dois outros acima mencionados. Reproduzimo-lo na integra: 

“Quem disse que não há nada de novo sob o do Sol? O céptico que assim falava não suspeitava que um dia a imaginação de um conselheiro de Estado faria, em pleno Senado, a descoberta do partido espírita. Nós já contávamos com alguns partidos na França, e Deus sabe se os ministros oradores laboram em erro ao enumerar os perigos que pode causar essa divisão dos espíritos! Há o partido legitimista, o partido orleanista, o partido republicano, o partido socialista, o partido comunista, o partido clerical, etc. 

“Ao Sr. Genteur a lista não pareceu bastante comprida. Ele acaba de denunciar à vigilância dos veneráveis pais da política que estão assentados no Palácio Luxemburgo, a existência do partido espírita. A esta revelação inesperada, um arrepio percorreu a assembleia. Os defensores das duas morais, com o Sr. Nisard à frente, estremeceram. 

“A despeito do zelo desses inumeráveis funcionários do império francês, o que está ameaçado por um novo partido? ─ Na verdade, é para desesperar a ordem pública. Como este inimigo, invisível até agora para o próprio Sr. Genteur, pôde subtrair-se a todas as vistas? Há nisto um mistério que o senhor conselheiro de Estado, se o penetrar, terá a bondade de nos ajudar a compreender. Pessoas oficialmente informadas afirmam que o partido espírita ocultava o exército de seus representantes, os Espíritos batedores, atrás dos livros das bibliotecas de SaintEtienne e de Oullins. 

“Eis-nos, pois, de volta aos belos tempos das histórias para boi dormir, das mesas girantes e dos tripés indiscretos! 

“Embora o Espiritismo e seu primeiro apóstolo, o Sr. Delage, o mais suave dos pregadores, não tenham ainda convencido muita gente, contudo eles chegaram a constituir um partido. Isto, pelo menos, se diz no Senado, e não seremos nós que jamais nos permitiremos suspeitar da exatidão do que se afirma num lugar tão elevado. 

“A influência oculta do partido recentemente assinalado se fez sentir até na última discussão do Senado, onde o Sr. Désiré Nisard, primeiro na qualificação, mostrou-se forte contra os reacionários. Um tal papel cabia de direito ao homem que foi, desde a sua saída da escola normal, um dos mais ativos agentes das ideias retrógradas. 

“Depois disto, é de admirar ouvir o honrado senador invocar o arbítrio para justificar as medidas restritivas tomadas a propósito da escolha de livros da biblioteca de Oullins? ‘Esses estabelecimentos populares, disse o Sr. Nisard, são fundados por associações; elas se encontram, pois, sob o disposto no Art. 291 do Código Penal e, por consequência, à mercê do ministro do interior. Ele usou, usa e usará desse poder ditatorial.’ 

“Deixamos ao partido espírita e ao seu Cristóvão Colombo, o Sr. Genteur, conselheiro de Estado, o trabalho de interrogar os Espíritos reveladores, a fim de que nos digam o que o Senado espera obter impedindo os cidadãos de organizar livremente as bibliotecas populares, como se pratica na Inglaterra.” 

ANATOLE DE LA FORGE. 

 

Observações de Kardec

 

 

O Partido Espírita

 

 

(Revista Espírita, agosto de 1868)

 

Um dos nossos correspondentes de Sens nos transmitiu as observações seguintes, sobre a qualificação de partido dada ao Espiritismo, a propósito de nosso artigo do mês de julho, sobre o mesmo assunto.

 

“Num artigo do último número da Revista, intitulado: O partido espírita, dizeis que, uma vez que dão esse nome ao Espiritismo, ele o aceita. Mas deve aceitá-lo? Isto talvez mereça um sério exame.

 

“Todas as religiões, assim como o Espiritismo, não ensinam que todos os homens são irmãos, que são todos filhos de um pai comum, que é Deus? Ora, deveria haver partidos entre os filhos de Deus? Não é uma ofensa ao Criador? Porque o objetivo dos partidos é armar os homens uns contra os outros; e pode a imaginação conceber maior crime do que armar os filhos de Deus, uns contra os outros?

 

“Tais são, senhor, as reflexões que julguei dever submeter à vossa apreciação. Talvez fosse oportuno submetê-las, também, à dos benevolentes Espíritos que guiam os trabalhos do Espiritismo, a fim de conhecer a sua opinião. Esta questão talvez seja mais grave do que parece à primeira vista. De minha parte, repugnar-me-ia pertencer a um partido. Creio que o Espiritismo deve considerar os partidos como uma ofensa a Deus.” 

 

Estamos perfeitamente de acordo com o nosso honrado correspondente, cuja intenção só podemos louvar. Contudo, cremos que seus escrúpulos são um pouco exagerados, no caso em apreço, sem dúvida porque não examinou a questão suficientemente. 

A palavra partido implica, por sua etimologia, a ideia de divisão, de cisão e, por conseguinte, a de luta, de agressão, de violência, de intolerância, de ódio, de animosidade, de vingança, coisas todas contrárias ao espírito do Espiritismo. O Espiritismo, não tendo nenhum desses caracteres, pois que os repudia, por suas próprias tendências não é um partido na acepção vulgar da palavra, e o nosso correspondente tem muitíssima razão para repelir a qualificação sob esse ponto de vista. 

Mas, ao nome de partido se liga também a ideia de uma força, física ou moral, bastante forte para pesar na balança, bastante preponderante para que se deva contar com ela; aplicá-la ao Espiritismo, pouco ou nada conhecido, é dar-lhe um atestado de notória existência, uma posição entre as opiniões, constatar a sua importância e, como consequência, provocar o seu exame, o que ele não cessa de pedir. Sob este aspecto, ele devia repudiar tanto menos essa qualificação, embora fazendo reservas sobre o sentido a ligar a isto, quanto, partida do alto, ela dava um desmentido oficial aos que pretendem que o Espiritismo é um mito sem consistência, que eles se gabavam vinte vezes de haver sepultado. Foi possível julgar do alcance desta palavra pelo ardor desajeitado com que certos órgãos da imprensa dela se apoderaram para transformá-la num espantalho. 

É por esta consideração, e neste sentido, que dissemos que o Espiritismo aceita o título de partido, já que lho dão, porque significava engrandecê-lo aos olhos do público. Mas não temos a intenção de fazê-lo perder sua qualidade essencial, a de doutrina filosófica moralizadora, que constitui a sua glória e a sua força. Longe de nós, pois, o pensamento de transformar em partidários os adeptos de uma doutrina de paz, de tolerância, de caridade e de fraternidade. A palavra partido, aliás, não implica sempre a ideia de luta, de sentimentos hostis; não se diz: o partido da paz; o partido das criaturas honestas? O Espiritismo já provou, e provará sempre, que pertence a essa categoria. 

Aliás, faça o que fizer, o Espiritismo não pode deixar de ser um partido. O que é, com efeito, um partido, abstração feita da ideia de luta? É uma opinião que não é partilhada senão por uma parte da população; mas essa qualificação não é dada senão às opiniões que contam um número de aderentes bastante considerável para chamar a atenção e representar um papel. Ora, não sendo ainda opinião de todos, a opinião espírita é necessariamente um partido em relação às opiniões contrárias que o combatem, até que ele os tenha unido a todos. Em virtude de seus princípios, ele não é agressivo; ele não se impõe; ele não subjuga; ele não pede para si senão a liberdade de pensar à sua maneira, seja. Mas, a partir do momento que é atacado, tratado como pária, ele deve defender-se e reivindicar para si o que é de direito comum; ele deve, é seu dever, sob pena de ser acusado de renegar a sua causa, que é a de todos os irmãos em crença, que não poderá abandonar sem covardia. Ele entra, pois, forçosamente na luta, por maior repugnância que experimente; ele não é o inimigo de ninguém, é verdade, mas tem inimigos que procuram arrasá-lo; é por sua firmeza, por sua perseverança e por sua coragem que ele se lhes imporá; suas armas são muito diferentes das armas dos adversários, isto também é verdade, mas ele não deixa de ser para eles, e a despeito de sua vontade, um partido, pois não lhe teriam dado este título se não o tivessem julgado bastante forte para contrabalançá-los. 

Tais são os motivos pelos quais cremos que o Espiritismo podia aceitar a qualificação de partido que lhe era dada por seus antagonistas, sem que ele a tenha tomado por si mesmo, porque era levantar a luva que lhe era atirada. Nós pensamos que podia, sem repudiar os seus princípios. 

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